sexta-feira, 30 de julho de 2010

Disciplinando os pais

Estava pensando sobre essa lei que criminaliza castigos físicos e torturas contra crianças por parte dos pais. A princípio eu acho ótimo. A violência contra os filhos é uma violência dupla, porque toda criança que sofre agressão por parte dos pais sofre o dano físico e também o emocional, porque aquelas são pessoas que se supunha serem as protetoras, das quais a criança, de início, nunca espera esse tipo de coisa. Um tapa na cara vindo de uma mãe é muito mais doloroso do que uma paulada que se leva de um moleque na rua. Além disso, a violência é o recurso dos brutos, que não sabem ou não querem dialogar, não se importam com o que os filhos sentem, não tem argumentos nem coerência, e só lhes resta a opção do espancamento, e esses sentirão (se Deus quiser, porque acreditar na justiça dos homens está difícil) os rigores da lei.

Contudo, como quase toda lei aprovada pelas vossas excelências, esta peca pela subjetividade dos seus preceitos. Ela prevê que qualquer puxão de orelha ou castigo que prive a criança de sua liberdade seja considerado crime. Isso supõe que o diálogo será suficiente para manter as crianças sob controle, disciplinadas e bem educadas o tempo inteiro.

A maioria dos adultos que eu conheço só tem recordações da infância a partir dos 6 anos ou mais, época em que a criança já está se enquadrando em padrões de comportamento social, e acha que é assim que funciona, naturalmente, a cabeça da criança. Mas eu lembro muito bem de fases bem precoces da minha infância, cuja memória mais antiga que eu tenho é do meu aniversário de 1 ano, e a coisa não é bem assim. Nessa fase que os adultos acham que as crianças são bobinhas é quando elas, inconscientemente, constroem grande parte dos seus conceitos, que, se elas não levarão até a fase adulta, servirão de substrato para esses outros que surgirão. E eu lembro bem, apesar de não ter sido vítima de violência doméstica (puxões, beliscões, ameaças, espancamento, esse tipo de coisa) e meus pais terem sempre procurando se comunicar comigo e demonstrar interesse, que eu era um "rebelde" em miniatura. Às vezes as coisas fugiam do controle, e eu levei uma ou outra chinelada bem merecida (minha irmã, que era mais hiperativa, teve que conviver com isso mais do que eu :^P). E essa lei jogaria meus pais na cadeia e me colocariam sob os cuidados do Conselho Tutelar.

Uma parte da educação de uma criança, levando em conta que ela está sendo formada para se tornar um ser social, é ensinar que cada lugar e situação tem seus limites, e que ultrapassá-los pode trazer consequências danosas. Mesmo com pais que conversam, ensinam e escutam, como os meus, esses limites, o proibido, é o que há de mais tentador para uma criança. Toda criança é curiosa e deseja explorar por si própria aquilo que ela suspeita que exista mas que não lhe é permitido ver. Uma forma de impor limites é o castigo, que pode variar desde uma chinelada até uma proibição, por exemplo, de andar de bicicleta, caso essa atividade esteja envolvida com a transgressão. O castigo faz parte da formação do ser social, porque quando ele chegar à fase adulta, ele continuará vivendo dentro de limites, cuja transgressão resultará em castigo, sob a forma da lei ou outras, como a transgressão de limites de conduta estabelecidos num círculo social qualquer (o casamento, por exemplo).

Talvez seria melhor se existisse um meio termo para os limites dessa lei. Mas, assim como ela é agora, esses limites seriam subjetivos, e sua interpretação mais ainda. O ideal mesmo é que os pais sejam realmente pais. Ou seja, que atuem como educadores, conselheiros, protetores, incentivadores. Que sejam, nas suas atitudes e opiniões, exemplos de integridade moral e coerência. Que estejam sempre abertos à comunicação e ao diálogo, para que a criança não se sinta coibida a esconder sobre sua intimidade ou mentir pelo medo do que possa acontecer, e se esforcem para entender o que os filhos pensam e sentem. Que sejam parceiros em que se possa confiar, para que sua outra função, como orientadores, possa ter efeito. E que não deixem para professores, artistas, vizinhos, parentes, aparelhos eletrônicos, celebridades de 15 minutos, e, até, outras crianças o papel de pais. E que não sejam meros provedores de bens materiais (porque comprar o amor de um filho é a outra alternativa dos brutos que eu citei no primeiro parágrafo, mas só quando eles tem dinheiro). As coisas feitas desse jeito não podem dar muito errado.

E que não trepem sem camisinha se não estiverem dispostos a tudo isso.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Nutrição

Alguém tem um hobby ou mesmo uma atividade rotineira que gosta de fazer e da qual aprecia os resultados, mas tem dia que simplesmente não tem saco pra isso? Eu gosto de cozinhar, me empenho no tipo de comida que mais aprecio (carnes e frituras, algum doce também), e algumas coisas acho que faço como ninguém. Meu bife à milanesa e o meu pão de queijo, ou meu camarão ao molho de ervas, por exemplo. Incomparáveis.

Mas hoje eu daria qualquer coisa por uma pizza de telefone, um McDonald's, um pastel de feira, ou qualquer coisa pronta. Se tivesse alguém pra cozinhar pra mim, ótimo também :^P

Tenho até os ingredientes na geladeira para um dos meus achados mais recentes (uma versão do "polpetone" que o McDonald's serviu durante a Copa do Mundo, só que com sabor), mas dá trabalho, e eu não quero melecar as mãos, os pratos, as panelas. Se alguém estivesse aqui, eu até faria, gosto quando apreciam a minha comida tanto quanto eu gosto de apreciá-la eu mesmo. Mas como estou só eu, cortei duas batatas pra fritar (outra especialidade minha), pus um quibe congelado pra assar (feito em casa, não esses cocôs de supermercado) e estou esperando. Não pode dar errado.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Resenha - O Aventureiro, de Mika Waltari

Ontem terminei de ler O Aventureiro, do escritor finlandês Mika Waltari. O livro trata sobre Michael Pelzfuss, um finlandês bastardo que começa o livro criança logo após a morte dos pais, acolhido por uma curandeira de Abo, uma cidadezinha portuária da Finlândia do início do século XVI. É educado como cristão e sonha em ser padre, mas como seu nascimento ilegítimo impede a ordenação, sua aptidão para os estudos o direcionam para uma carreira acadêmica. Mete-se em apuros durante seus estudos na França, a serviço do rei Cristiano da Dinamarca, é apanhado pelo caos da Reforma Protestante na Alemanha e pelas intrigas da alta política européia, conhece o amor, a morte e o ódio, e jura de todas as formas ir a Roma para ver o papa Clemente cair sob seus pés.

O autor cruza o caminho de Michael com o de várias personalidades reais daquele tempo: o ambicioso rei Cristiano, o misterioso Paracelso, o excêntrico Erasmo de Roterdam, o Imperador Carlos da Alemanha, Martinho Lutero, Thomas Munster, Francisco Pizarro, o rei Francisco da França, e outros.

Waltari tem um estilo irreverente, embora ele não descambe para a comédia. Seu personagen é, digamos, um nerd que leva a vida e as instituições a sério e acredita na palavra e nas boas intenções das pessoas, o que sempre acaba levando-o a situações absurdas, cômicas e inesperadas. Geralmente, seu amigo Andy - um rapaz simples e de força sobrehumana - é quem o salva de grandes enrascadas, e permanece como seu protetor e contraponto ao seu pensamento, menos teórico e mais intuitivo. Mas o livro também traz o leitor para o lado mais escuro da humanidade, descrevendo os sofrimentos e horrores das vítimas da Inquisição e do fanatismo religioso, e a loucura da guerra, cujo auge é o terrível saque a Roma pelos exércitos do Sacro Imperador Carlos V. O enredo é composto desses altos e baixos que se alternam que jogam o espírito do leitor aos extremos de uma página a outra. A preocupação com a ambientação histórica, os hábitos e as regras de etiqueta tornam tudo crível, embora, muitas vezes, Michael (o próprio narrador) pareça mais um historiador detalhando acontecimentos distantes do que alguém registrando suas memórias. Mika Waltari adorava os pequenos épicos da História ocidental, e às vezes seus livros parecem mais veículos para recontá-los a seu próprio modo.

Leitura muito boa, ágil, com picos de tensão e descontração que excitam as emoções do leitor.

terça-feira, 27 de julho de 2010

PC quebrado cmofas?

Acho que a fonte do meu PC arriou. Uma das coisas que aconteceu no hiato de mais de um ano sem postar aqui foi um problema de fonte no meu computador. Troquei a fonte por outra ainda mais antiga, que fez o bicho funcionar muito bem até domingo, quando já observei os sintomas se repetindo.

Eu pretendia usar o dinheiro da minha bolsa para um laptop. Mas a queda do meu pc veio em má hora, porque se eu gasto essa grana com um novo, fico com uma mão na frente e outra atrás por alguns meses. E reformar esse PC, que já tem 5 anos (algumas partes são mais novas... a fonte deve ser uns 3 anos mais velha ainda), custaria tanto ou mais do que um novo.

O bad timing não para por aí. Em uma semana devo apresentar uma palestra, e não tenho onde prepará-la.

Geralmente quando eu reclamo, o universo "ouve" e as coisas se movem (inclusive na cabeça, pra buscar soluções alternativas).

sábado, 24 de julho de 2010

Momentaneamente puto

Esses dias vi uma coisa que me deixou em alerta. Um camarada escreveu um artigo sobre rivalidades na Fórmula 1, um artigo muito bem escrito por sinal. O primeiro comentário que ele recebeu foi neste teor: "'diabólico'? 'maquiavélico'? até parece que vc usa essas palavras normalmente. Isso aí é uma pesquisasinha sem vergonha de corta e cola etc.", e desandou a desqualificar o texto.

Não sei mais em que país estou. Aqui se fala português ainda, certo?

Mas não é sobre vocabulário que eu quero falar, até porque eu sinto que o meu está diminuindo com o tempo :^P Mas tem uma coisa nesse comentário que me deixou de cabelo em pé. É a crítica ao uso de um vocabulário que excede o coloquial de porta de bar. E a crítica à "pesquisa", ou seja, obtenção de conhecimento por levantamento e análise crítica de fontes, e não apenas pela "intuição" ou pelo "ouvi falar", ou pela "escola da vida", onde basta você ficar parado no seu lugar para deduzir toda a realidade para além dos seus muros.

É a ojeriza que o brasileiro tem ao conhecimento, e aos detentores/produtores de conhecimento. Demonstrar conhecimento aqui é ser "antipático", "pedante", "metido a besta". É ser, sobretudo, "arrogante", o que faz a sua opinião, embasada em aspectos técnicos e construída por informações acumuladas por observações e pesquisa, ser ignorada pela maioria. Repare que eu não prego a arrogância, e nem que uma opinião com maior musculatura teórica esteja necessariamente correta. É diferente, quando você é perguntado sobre algo no qual você se especializou, e você responde da maneira mais completa possível baseado no que você conhece a respeito daquilo (às vezes, contrapondo as suposições do indagador), de quando você entra numa conversa que não lhe diz respeito para dizer que todos ali estão falando merda, e que o certo é o que você estudou. Isso é estúpido, e é pedir para ser motivo de chacota, senão coisa pior, em qualquer meio e qualquer nível, e em qualquer lugar do mundo.

Se demonstrar conhecimentos é ser um "babaca", isso inibe quem os detém. Conheço pessoas (eu, em muitas situações) que tem vergonha de expor sua bagagem intelectual, porque ninguém respeita o seu esforço em acumular conhecimento. Anos de estudos e especialização vão por água abaixo quando vem um cara qualquer que só leu A Vida Secreta das Plantas na vida, e te acusa de não "enxergar a verdade", e quando você rebate as argumentações, a pessoa desvia o assunto para argumentos ad hominem (porque não tem bagagem para debater, mas também não reconhece que possa, talvez, estar completamente errado por causa dessa deficiência teórica), e, no final, ainda sai cantando vitória. Nem comento o desespero dos psicólogos, que, após apresentarem seu método de trabalho na primeira consulta, recebem a notícia de que o paciente resolveu todos os seus problemas com um astrólogo que disse que tudo ia dar certo e cancelaram o horário. Ou os mestres de shiatsu que precisam concorrer com massagistas que fizeram um curso de 6 meses dessa técnica, que, normalmente, demora-se mais de 10 anos para ser dominada, ou os paisagistas formados e com cursos de especialização que perdem espaço para amadores sem qualificação. São incontáveis os casos em que ao suporte teórico não se dá valor algum, e todo mundo acha que pode fazer melhor do que o especialista, ou que o seu serviço vale tanto quanto o do zé da esquina que cobra menos.

Há muito assunto sobre "especialistas" e "generalistas" que eu gostaria de escrever em outra ocasião (que o super especialista pode não ser o suficiente para resolver uma questão que passe pela sua alçada por não ter uma abordagem mais global e sistêmica, que possa se fazer necessária para compreender o assunto, e que um generalista possa, na superficialidade da sua instrução, produzir um resultado mais eficiente por ter mais mobilidade teórica, por exemplo). Mas o desprezo ao conhecimento (que os especialistas e os generalistas tem, em diferentes níveis, mas, talvez, em volume equivalente, se isso puder ser medido) a à opinião de quem o detém é algo desanimador. Você estuda um rol de temas e assuntos, que consome o tempo que você poderia estar dedicando em ganhar dinheiro, por exemplo, se especializa, lê volumes enormes de trabalhos científicos, adquire experiência prática de campo, discute com autoridades sobre detalhes que você não conhece direito para absorver aquele algo mais, tem seus trabalhos respaldados pela comunidade científica, ganha mal para fazer tudo isso, para, no final, sua opinião valer tanto quanto o palpite de alguém. Não que eu seja um poço de conhecimento. Mas palpite, até meu cachorro tem.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Política de Photoshop

Já começou a campanha eleitoral. Os cartazes já estão nas ruas, nos muros, nas casas, em toda parte. Mas, além da horrenda poluição visual, que é de praxe, algo me incomoda demais nessas propagandas. Nas fotos, além dos sorrisos falsos e da pinta de "homens e mulheres que trabalham", eles recebem um tratamento de Photoshop tão horroroso, que parecem todos personagens da Pixar. Nenhum deles tem rugas, linhas de expressão, sombras, fios de cabelo branco, e os dentes e o branco dos olhos são quase fluorescentes. A Dilma Rouseff parece ter saído do longa Os Incríveis ou Toy Story. Para não ser injusto com a classe política, as propagandas do supermercado Guanabara, em cartazes nos pontos de ônibus, exibem o mesmo tratamento grotesco nas fotos dos artistas. O Marcos Pasquim, na atual campanha, parece Galadriel querendo pegar o Anel de Frodo no Senhor dos Anéis. Queria até pedir a opinião de algum fotógrafo profissional a respeito, porque me parece que antes do Photoshop, quando os fotógrafos precisavam trabalhar com ângulos, luzes, filtros e técnicas de revelação para fazer as fotos "perfeitas", elas saíam bem menos aberrantes do que quando editadas por nerdz espinhentos que entendem de edição de imagem mas não de fotografia...

Nos cursos de animação que eu fiz, os professores diziam que o ideal de uma animação é que ela imite a realidade, mas evite, na medida do possível, reproduzi-la. Os animadores em 3D sabem que quanto mais você tenta se aproximar da realidade, menos real parece o desenho, o modelo, a animação, porque o cérebro detecta os menores detalhes de uma imagem e a identifica como "falsa". Lembro do longa chatérrimo de Final Fantasy, em que a Sony enchia a própria bola falando sobre como as peles tinham texturas e movimentos próximos à realidade, mas quando você assiste, é tão óbvio que aquilo é irreal que incomoda. Esse incômodo não acontece quando você assiste um cartoon bem trabalhado, como Pernalonga, ou uma animação 3D mais caricata, como o citado Os Incríveis, porque, por estarem afastados dos padrões que nós reconhecemos como "reais", nós não temos bloqueio nenhum. E mais, um Pica Pau que se deforma até virar uma bolinha no chão antes de dar um puta salto pra cima, com o corpo se esticando 3 vezes a sua altura normal, é interpretado como algo absolutamente normal pelo nosso cérebro, e "falso" seria se fosse diferente. Os desenhos do Maurício de Souza nunca emplacaram exatamente por isso, seus personagens são sólidos e rígidos como pessoas reais, e se movimentam como elas, apesar de caricatos em seus traços. É chato demais se ver.

Voltando ao Photoshop, os trabalhos de edição de menor qualidade (os mais baratos, imagino, que estão sendo empregados por toda a parte) pecam ao transformarem tanto os modelos a ponto do cérebro não reconhecê-los como reais, porque reproduzem uma realidade que não é natural. Acho que quem depende de imagem, como os políticos, deveriam ser mais criteriosos com quem trabalha com elas, porque o que se vê é um lixo e provoca todo tipo de sentimento, menos simpatia.

Se bem que tem gente que vê a própria foto tratada com o rosto parecendo de massinha e dentes de raio laser e acha linda :^P

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Kasparov, eu escolho você!

Como as atualizações do meu blog são exibidas no meu facebook, e nelas, as primeiras linhas são as que aparecem, é sempre bom ter algo inteligente ou engraçado pra dizer na abertura dos posts, senão ninguém lê :^P

Esses dias me lembrei do Deep Blue. Alguém se lembra? Era o supercomputador construído pela IBM em 1996, que pretendia se tornar o novo paradigma em tecnologia e processamento de dados. Para provar sua eficiência, organizaram um mini torneio de xadrez entre a máquina e o azeri-russo Gary Kasparov, o maior enxadrista do último quartel do século passado e talvez o melhor de todos os tempos. Kasparov venceu três partidas, empatou duas, e perdeu uma. A IBM ficou tão Deep Roxa de vergonha, e após grandes atualizações (que, possivelmente, incluía jogadores humanos acrescentando dados ao computador entre as partidas), reverteu o placar no ano seguinte. De qualquer forma, o computador foi aposentado logo depois.

Lembrei disso porque estava numa discussão orkutiana sobre jogos em que você era imbatível. Uns diziam ser imbatíveis aqui e ali (eu era muito bom em Super Monaco GP do Mega Drive), até que alguém lembrou de Pokémon. E lá vou eu de Pokémon de novo.

Apesar de tudo, Pokémon é um jogo muito inteligente. Assim, o modo aventura, o jogo mesmo, contra a máquina, não é lá muito exigente de massa encefálica, quando muito, você só precisa conhecer o alfabeto pra se dar bem. Mas os jogos da série, desde os primeiros, tem um recurso que permite que você entre em batalhas com outros jogadores. Neste caso, você arma o seu time de até 6 pokémons e precisa derrotar os tantos do seu adversário. O que no começo eram 151, hoje são quase 500 espécies diferentes, cada uma com particularidades, pontos fortes e fracos, mais efetivas ou menos contra determinados tipos de pokémons. Cada pokémon pode usar até 4 técnicas diferentes, entre ataque, defesa, modificadores de status e atributos. São tantas variáveis, que é impossível montar um time que seja imbatível, porque, por mais forte que seja, não existe Pokémon que não seja vulnerável a um determinado tipo de golpe. Então a vitória é determinada pelo conhecimento que o jogador tem dos pokémons, suas virtudes e fraquezas e as possibilidades de movimentos que eles permitem, e a sua capacidade de, no meio do combate, prever o que o adversário está preparando e antecipar o seu ataque. É, de uma maneira meio absurda, algo parecido com o xadrez: não existe só uma maneira de vencer, e não existe uma sequência de lances que seja indefensável, não há uma fórmula para um xeque mate automático. E sempre se deve jogar calculando as possibilidades de movimento de acordo com os atributos e a posição de cada peça, prevendo e deduzindo o que o oponente está planejando. Contudo, há maneiras de perder, erros crassos que, se cometidos, podem entregar a vitória ao adversário (o xadrez é até magnânimo ao impedir que um jogador faça um movimento errado que coloque seu rei em posição de xeque mate, coisa que Pokémon permite). É o que todo designer de jogos procura.

A vida apresenta muito mais variáveis do que o xadrez (mais do que Pokémon, provavelmente :^P). Não há uma só maneira de vencer os desafios impostos no trato com as pessoas, com a carreira, com os negócios, mas há muitas maneiras de entregar o ouro ao bandido.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Jornal do Brasil is dead

Ontem eu pretendia escrever uma coisa, mas como vim para o trabalho de trem, preferi parir o que estava mais fresco na memória. Mas durante o dia, entrei no site do Jornal do Brasil e lia coluna de Marcelo Migliacio. Comentei algo lá, que acabou sendo o que eu pretendia escrever aqui. Foi algo mais ou menos assim:

Eu soube que o JB impresso está para sair de circulação pela voz de um dos âncoras da rádio do grupo rival. Eu não acreditaria, se não houvesse acompanhado a decadência dessa publicação nos últimos anos. Fui criança nas últimas gestões do regime militar, e o JB era o único jornal que entrava pela porta de casa. Só li o JB até os primeiros anos da minha idade adulta, e nenhum outro jornal ou revista semanal.

Ao contrário dos outros jornais, que lambiam as botas de quem quer que estivesse no poder, pelo JB eu tinha uma janela para a realidade nacional e internacional que ajudou a me formar um cidadão. Os editoriais eram mais coerentes, as tiras eram as mais divertidas, e até esportes, com cobertura televisiva rival, tinham mais atenção no JB do que no impresso global. O avanço dos diários ditos "populares", os "jornalixos", desses que você dobra e deles escorre sangue e sexo, e o avanço do poder econômico do concorrente de fato (em parte, alimentado pelos seus subsidiários "populares") foi o sinal de que algo precisava ser feito.

Mas não foi. O JB perdeu visibilidade, reduziu seu tamanho, as matérias e, minha queixa pessoal, a seleção dos articulistas (falo de um que vê comunistas doutrinadores até em livros de matemática para o Ensino Fundamental... e era justamente sobre isso que dizia a última coluna dele que eu li, no JB) já não tinha o mesmo critério. Ziraldo e toda a turma ainda deram uma bela repaginada no caderno B, que sem dúvida continuou ainda por algum tempo como o melhor caderno cultural da cidade, mas hoje, não mais.

Não é uma morte súbita, é algo que já vinha sendo anunciado há alguns anos. Tenho guardada a edição de 100 anos da República, publicada em novembro de 1989, com fac similei de reportagens, manchetes, fotos do JB desde 1891. Também tenho o especial O Jornal do Século, que conta, através das reportagens do JB, toda a história do mundo no século XX. Esse foi o século de glória do Jornal do Brasil, o ponto mais brilhante do firmamento jornalístico nacional. O novo século está aí, com todas as suas mudanças, nem todas para a melhor. Espero que o espólio do JB - seus jornalistas e articulistas - continuem com sua postura e se firmem como um ponto brilhante no obscurantismo do mercado da informação no Brasil.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Não vá de trem (a menos que queira evitar engarrafamento ou comprar uma balinha)

Já que semana passada eu escrevi porque eu gosto de andar de trem, então é justo agora apontar os problemas do sistema ferroviário carioca/fluminense.

Andar de trem é um privilégio para poucos. Se enquanto a frota de ônibus apresenta uma diminuta proporção (tem aumentado, é verdade) de veículos adaptados a pessoas com deficiências de locomoção, idosos, gestantes e obesos, para esses (sobretudo cadeirantes e deficientes visuais) é simplesmente impossível chegarem sozinhos ao interior de uma composição. Porque os acessos às estações são sempre via escadarias. Mesmo nas poucas estações com escadas rolantes (lembro de duas, Méier e Engenho de Dentro, nem sempre elas estão em funcionamento), o cadeirante enfrenta dificuldades para acessar as plataformas. Uma vez lá, subir no trem se torna uma tarefa arriscada, inclusive para os idosos, que passaram pela etapa das escadas com um pouco menos de dificuldade: na maioria das estações, as plataformas são muito afastadas dos trilhos, ou estão em alturas muito diferentes em relação aos trens. Na estação da Mangueira, há praticamente uma pessoa de espaço entre o trem e a plataforma, e em São Cristóvão, são cerca de 40cm de altura por 40cm de distância que a pessoa tem que superar para embarcar e desembarcar.

Embora eu tenha feito graça com os ambulantes no último post, do ponto de vista legal eles também são um problema. Há ambulantes cadastrados e uniformizados que vendem produtos fornecidos por empresas autorizadas pela concessionária, e há os informais, que vendem tudo muito mais barato (não precisam incluir nos preços o custo da licença de trabalho) e passam o dia de trem em trem fugindo da fiscalização da Supervia. Embora a maioria dos informais esteja comercializando produtos obtidos legalmente de atacadistas, não se pode por a mão no fogo por todos. Alguns - como dois irmãos que vendiam danoninho a preço de bala um dia desses - parecem ter obtido a mercadoria por furto ou extravio. Sem falar nos produtos piratas que ferem direitos autorais, não tem garantia, e geralmente, não tem qualidade também. Eu não serei hipócrita de dizer que sou contra os ambulantes informais e que eles precisam ser tirados de circulação, porque não só eles estão ganhando seu dinheiro com trabalho, como também oferecem tudo a preço de atacado, o que pra nós, que somos pobres, é uma grande vantagem.

Quanto aos trens propriamente ditos, há várias gerações de modelos em circulação. Tem os "caveirões" que se mantêm íntegros por um milagre qualquer, e que circulam preferencialmente nas linhas que vão para a Baixada Fluminense, mas nas outras também. Nesses, só de pisar dentro parece que você vai pegar uma doença, de tão quebrados e sujos que são. Também há trens com ar condicionado, os mais antigos diferindo pouco em conforto dos caveirões, mas os mais novos fazendo frente ao metrô que percorre a Zona Sul da cidade. Esses trens circulam nas linhas que vão para a Zona Oeste. No entanto, em 2008, o governador atual foi à China e realizou a compra de novos trens, que deveriam ter sido colocados em circulação neste ano em substituição aos mais antigos, mas dos quais ainda não vi nem a cor. Quem sabe quando ele estiver em plena campanha eleitoral?

Estrutura das plataformas, qualidade dos trens e segurança são relativamente fáceis de se melhorar. Mas há um problema crônico no sistema de trens urbanos do Rio, que é a quase impossibilidade de expansão das linhas. As linhas de trem circulam, do começo ao fim, sufocadas por avenidas e construções em ambas as margens da via. Por onde passam 3 linhas, não poderá, um dia, passar uma quarta, porque não tem pra onde crescer, a menos que se procedam complicados processos de expropriação e reestruturação urbana dos bairros. Quando as estradas de ferro foram construídas, elas saíam do Centro da cidade, e ligavam as vilas que compunham os antigos bairros, e entre elas passava por áreas largamente desabitadas. A estação de Campo Grande data do século XIX, nem consigo imaginar a selva que devia ser no caminho até lá (entre a estação Augusto Vasconcelos, a que vem imediatamente antes de Campo Grande, e a anterior, Santíssimo, é o único trecho do ramal Campo Grande onde, em um dos lados da estrada, não se vê um muro gigante encostado em milhões de casas). O fato é que a cidade cresceu no entorno das linhas, e elas não tem mais espaço. Enquanto isso, a população cresceu, os trens lotaram, e as linhas estão chegando ao seu limite máximo. São frequentes os atrasos e esperas porque mais à frente tem outro trem já ocupando a estação. Na Zona Oeste existem dois ramais com três linhas (Bangu, Campo Grande, e Santa Cruz) que, na prática, passam pelos mesmos lugares e ocupam os mesmos espaços, e a demanda é enorme.

Apesar de tudo, ainda assim o Rio está melhor servido de trens do que do metrô, que tem só uma linha e meia (as duas linhas compartilham dos mesmos trilhos na maior parte do percurso... o que não faz o menor sentido). É mais ou menos o oposto de São Paulo, cujas ferrovias tem sido gradualmente deixadas de lado, enquanto o sistema metroviário abastece uma imensidão de regiões da capital.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Em público

Em pouco mais de duas semanas, vou apresentar uma palestra para alunos do ensino médio sobre os benefícios e os malefícios do video game. Serão três palestras com esse tema nas unidades de uma rede particular durante o mês de agosto. Peguei essa depois de apresentar uma palestra sobre história dos jogos na UFRJ, na qual a plateia (basicamente, químicos!) aparentemente se interessou bastante.

E pensar que, quando comecei na faculdade, eu entrava em pânico total quando me via obrigado a falar em público. No primeiro seminário que eu apresentei, eu simplesmente não conseguia formar uma única frase coerente. Nunca uma pessoa levou uma nota tão baixa numa apresentação desse seminário em todos os anos em que foi aplicado (exceto quando a pessoa não apareceu para falar e levou zero). Houveram outros micos, mas eles foram ficando cada vez menores com o tempo e a prática. A importância da situação não me intimidava tanto quanto a situação em si. Tanto que, nas ocasiões mais importantes (minha apresentação de monografia de bacharelado, e na defesa do mestrado, quando eu já estava calejado pelos micos anteriores) eu me senti tão à vontade que até me esqueci dos limites de tempo, e nas duas vezes em que apresntei projeto de doutorado para a banca avaliadora, houve até espaço para brincadeiras sutis. Durante o mestrado, dei uma aula sobre origem e evolução de Angiospermas, e consegui dizer rápido e claramente "óvulos nos macrosporófilos dos estróbilos das Pteridospermales" sem gaguejar!

Acho que eu tenho um quê de ator. Porque se alguém entrar agora no meu quarto, vai encontrar uma pessoa calada e com extrema dificuldade de pensar em algo para dizer. Organizar os pensamentos e expressá-los oralmente é um esforço colossal pra mim, desde que eu consigo me lembrar. Minha entesposa fica me empurrando para conseguir obter meus pensamentos de mim. Mas quando tenho um assunto (importante, um assunto que não seja íntimo, algo impessoal como o "uso de plantas medicinais pelo homem de Neanderthal") a tratar com um grupo de pessoas, uma plateia, por exemplo, do tamanho que for, eu faço com uma desenvoltura satisfatória, mesmo que fuja uma palavra ou outra do discurso e eu tenha que emendar na hora.

Inclusive, participo de um podcast, o Megacast*, onde eu e mais uns 5 a 8 nerds falamos sobre games da geração 16-bits. Gravamos via conferência no Skype, cada um tem sua parte pra falar, e liberdade para interferir na fala dos outros. Eu mesmo observo o contraste do meu comportamento quando estamos gravando contra quando estamos apenas conversando; quando chega a hora, eu incorporo um personagem qualquer (o "Monocromático", possivelmente) e mando brasa.

É estranho isso. Eu deveria desenvolver essa coisa.

*Só pra deixar a propaganda por completo, se quiser ouvir os 6 episódios, baixe aqui:
Megacast 1 - É dia de Powerblack
Megacast 2 - Prêmio Dreamcas 2009
Megacast 3 - Papos de locadora
Megacast 4 - Trilha sonora dos games
Megacast 5 - Sega vs. Nintendo
Megacast 6 - Clássicos que nunca morrem, parte 1

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Cine privê

Eu confesso que ontem assisti um vídeo da Eliza Samúdio, a ex amante do atual goleiro do Bangu, e que ele transformou num novo sabor de ração para cachorros. Eu não vou linkar aqui, mas se você conhece algum site de vídeos pornôs gratuito e sem ameaças ao seu computador, você deve encontrar. Espero que a minha entesposa compreenda :^P

Hoje, a caminho do trabalho, parei numa banca de jornal, que fica num ponto onde as minhas canelas começam a ter cãimbras, e enquanto eu leio as manchetes dos jornais que ficam pendurados, recupero um pouco a disposição pra continuar a caminhada. Num deles, o Extra (um dos 7 ou 8 jornalixos que pertencem à família Marinho, e "jornalixos" não tem qualquer conotação ideológica contra a empresa) estampava na primeira página como manchete principal a notícia de que o caso do assassinato da atriz alavancou o comércio dos seus filmes pornôs (entendeu o porquê de "jornalixo", né?).

Vim no caminho pensando em como é bom você ter uma vida correta. O conceito de correção não é muito objetivo, mas viver bem, pra mim, é você poder olhar para trás e não ter do que se envergonhar ou se arrepender, e olhar para o presente e se sentir satisfeito consigo mesmo, pelo que você conquistou com seu esforço, e pelo bem que irradia das suas ações, sem ter prejudicado (ao menos conscientemente) ninguém no processo. Vivendo dessa forma, você provavelmente chegará ao final da vida ignorado, e não terá qualquer reconhecimento pelos seus atos. Mas ainda assim, acho melhor morrer e ser esquecido, do que morrer e ser lembrado porque eu dava o cu.

A propósito, nota mental: não dar o cu.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Catucando o CNPq

O CNPq é engraçado. Eles avaliam periódicos científicos com índices de impacto de acordo com o volume de artigos publicados e a periodicidade de publicação de volumes. Esse índice entra no cálculo que o órgão faz para avaliar os cursos de pós graduação pelo Brasil, nota essa que serve como referência para a distribuição de recursos, ou até para o fechamento dos cursos com baixas avaliações. Quanto maior o volume de trabalhos produzidos numa instituição e publicados numa revista de alto impacto, maior tende a ser a nota do CNPq para o curso de pós. Há outros dados nesse cálculo, mas publicações é um fator de peso.

No entanto, segundo os critérios do CNPq, apenas umas poucas revistas brasileiras são consideradas publicações de impacto. Em cada área tem uma ou duas, ou nenhuma, e os pesquisadores ficam se acotovelando, tentando, muitas vezes em vão, publicar seus trabalhos na língua pátria. Para quem não pode esperar (porque os professores e os alunos de pós são pressionados por outras frentes para terem publicações nos seus currículos, seja para progressão profissional, seja para terem mais chances num concurso público onde o currículo seja avaliado), existe uma série de publicações estrangeiras com índices de impacto, que o CNPq considera indiferentemente da nacionalidade da revista. Um tempo atrás entregaram lá no laboratório uma lista de revistas de impacto onde devíamos tentar publicar nossos trabalhos, se quiséssemos que eles valessem alguma coisa. Tinha lá revistas de botânica, entre outras, da Nova Zelândia, do Paquistão, duas da China, África do Sul, e nenhuma brasileira. Tinha até uma de Bangladesh, que depois eu fui conferir, e vi que não publicava um número novo fazia uns 3 anos.

O que o CNPq faz é induzir o pesquisador brasileiro a priorizar revistas estrangeiras, porque sem publicações de impacto, é como se, do ponto de vista da avaliação do currículo, ele não tivesse publicado coisa alguma. Eu tenho um artigo publicado num periódico brasileiro, que a minha orientadora insistiu que eu retirasse do meu currículo quando tentei concurso para doutorado, porque corria o risco da banca baixar minha pontuação quando passasse por ele. Então, como publicar no Brasil não vale nada, as poucas revistas de impacto ficam saturadas, e outras, que teriam condições de suprir a demanda, são ignoradas, ou usadas apenas por instituições pequenas, ou para fins meramente de registro formal de um trabalho científico. O que o CNPq faz é criar um círculo vicioso, um onde as publicações nacionais não tem peso porque não tem volume nem periodicidade, pois ninguém publica nelas, porque elas não tem peso.

Eu me sentiria mais seguro se Steve Wonder estivesse dirigindo.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Julgando pela aparência

Outro dia eu estava lendo algo sobre o samurai Musashi, de que o seu professor de esgrima, entre outros talentos, era mestre na arte do chá. Pensei que seria legal aprender mais sobre essa arte (que não é só fazer e tomar chá, isso qualquer macaco faz), mas não conheço ninguém que possa me ensinar.

Eu não posso, pelo menos aqui no Brasil, sair a dizer isso pra qualquer um, porque as pessoas me olharão com cara de "WTF?". Ninguém vai me ajudar, e será apenas mais um motivo pra me acharem excêntrico. As pessoas não entendem bem o interesse de alguém naquilo em que elas não conseguem enxergar qualquer utilidade prática.

Futilidade é um conceito que está sempre no topo da lista de julgamentos diários de qualquer pessoa. É um conceito essencial para que possamos selecionar aquilo que nos é mais importante ou necessário no meio do universo de eventos que nos são apresentados a todo momento, orienta nossa mente no sentido de se concentrar em algo produtivo, prazeiroso, ou de alguma forma recompensador.

Mas aí existe uma armadilha: como as necessidades e os gostos são estritamente individuais, a definição do que é "fútil" ou "inútil" é relativo e muito pessoal. Sob esse ponto de vista, é possível que alguém diga que ouvir axé não serve pra nada, e outro que diga que ler Aluísio de Azevedo não acrescenta nada na vida de alguém, e obter justificativas idênticas e igualmente fundamentadas. Você que se doeu no primeiro ou no segundo exemplo já está começando a entender onde eu quero chegar.

Julgamos as pessoas pela aparência. Quanto mais aspectos superficiais conseguimos acessar, mais fácil é qualificá-las. Isso também é necessário para que possamos, de modo mais ágil possível, selecionar pessoas no nosso convívio que tenham a maior probabilidade de nos trazer recompensas imediatas (sociais, afetivas, financeiras, o que quiser). É a triste verdade que a maioria de nós nega para parecermos mais legais. Geralmente, um dos aspectos superficiais que usamos como parâmetro é o que a pessoa expõe espontaneamente, seja pela sua atividade no trabalho ou no seu tempo livre, seus gostos no perfil do orkut, seu modo de escrever ou falar, moda, aspectos que estão sempre acessíveis ao observador casual. Entre eles, as preferências, os gostos, são muitas vezes onde nos esbarramos, e onde identificamos o quão "fútil" é aquela pessoa, o que nos leva a deixá-las de lado, afinal, não temos tempo para todo mundo.

Aí está o erro. Ora, futilidade não é um conceito estritamente pessoal? Se o meu conceito do que é útil ou construtivo é tão pessoal, quem eu penso que sou para dizer que outra pessoa não faz nada de útil? Utilidade é o que atribuímos a qualquer coisa que nos seja útil, e nem tudo é útil para todos da mesma forma. Um "nerd punheteiro que só joga games e não faz mais nada na vida" só será realmente fútil se ele não souber aproveitar o que a sua atividade "fútil" (games) lhe oferece, por exemplo, melhorando seus reflexos, aprimorando o raciocínio, ou simplesmente a oportunidade de ler e participar de uma boa história. Substitua "games" por "futebol", "balada", ou qualquer outro hobbie que lhe venha à cabeça, e o sentido continuará o mesmo. Alguém que leia os livros do Casseta & Planeta e se divirta horrores não será mais "fútil" do que quem se dedica a ler os livros de Joseph Campbell e não entende nada, assim como ir a um concerto de Heavy Metal, de música barroca, ou numa micareta oferece igualmente os mesmos benefícios para quem prefere uma ou outra e só será "fútil" para quem não conseguir extrair nada de proveitoso deles.

A armadilha está sempre aberta e estamos sempre caindo nela. A saída é, no momento em que formos passar o julgamento sobre o outro e seus atos e preferências, tirar os sapatos e pensarmos em nós mesmos sob o olhar de outra pessoa. Assim, é possível que rejeitemos menos as pessoas (ou pelo menos não imediatamente), e possamos nos dar a chance de conhecê-las melhor. Podemos ter boas surpresas nisso.

Viver num meio universitário megadiverso onde você não escolhe quem vai se aproximar de você me ensinou a fazer isso :^P

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Vá de trem

Hoje eu comprei um fone de ouvido de R$3,00 de um cara no trem. Só funciona uma das orelhas, mas é o que se consegue dentro de um trem por R$3,00 (talvez o que custava R$5,00 tivesse os dois fones funcionando, talvez até ao mesmo tempo!).

Trem se tornou meu meio de transporte favorito no Rio. Não que o serviço seja uma maravilha - tem certas bizarrices como plataformas de embarque cerca de 30 cm mais baixas que o vagão, com um vão de igual ou maior comprimento entre os mesmos, que impossibilita completamente o uso desse sistema de transporte por cadeirantes; entre outras coisas, dá pra passar algumas horas enumerando os absurdos dos trens do Rio. Mas existe uma diferença sensível entre você pegar qualquer trem na estação São Cristóvão vindo da Central às 17:30, e um trem parador saindo de Campo Grande às 10:00. No primeiro caso é o inferno na Terra, mas no segundo, é quase como um passeio no parque, com espaço para sentar, sem os solavancos dos ônibus, os aborrecimentos e atrasos com o trânsito, e, com alguma sorte, você pode ir de ar condicionado sem pagar qualquer adicional por isso. Eu, que gosto de desenhar durante as viagens para passar o tempo, me sinto imensamente mais à vontade na suavidade dos trilhos do que nos buracos das ruas. De casa para o trabalho há várias opções de transporte, todas demoram mais de duas horas, então eu posso escolher qual a mais conveniente em cada momento. Mas para ir daqui até o Centro da cidade, ou qualquer bairro do subúrbio, trem é a melhor opção disparado.

E tem os vendedores, os regularizados e os informais. Eles vendem de absolutamente tudo, de chiclete a cintos com fivelas automáticas, enfeites para festas de ano novo, cordas para violão, barbeadores, cerveja, cartilha com a tabuada, chaves de fenda, dvds piratas de filmes que não foram lançados no cinema nem nos EUA. E se você é fã de comprar jujuba de iurgute (sic) ou paçoca no ônibus porque acha baratinho, saiba que você paga até o dobro do que pagaria pelo mesmo produto se comprasse de um ambulante no trem. Você consegue 10 paçocas, 3 amendoins, de 4 a 6 pacotes de jujubas, e até danoninho por R$1,00.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Mick Jagger, não jogue games portáteis

No momento, eu gostaria muito de estar devendo uns 20 contos pro Mick Jagger, o que fatalmente faria minha conta bancária atingir níveis astronômicos. E ao entregar a grana, ela se esfacelaria nas mãos dele, liberando gases radioativos que, sob o menor estímulo, iniciariam uma reação em cadeia, causando grande destruição. Tal é a sorte de Mick Jagger.

Enquanto isso não acontece, quando não estou em nenhum dos meus dois trabalhos, tenho me dedicado a conhecer novos games via emulação, principalmente de consoles portáteis (até porque, seus emuladores são o máximo que o meu pc aguenta... meu pc ainda é do tempo do Weblogger). Game Boy Advance e Nintendo DS são os meus favoritos. Acho legal como o mercado de portáteis é tão underground em comparação com os principais consoles, mas como eles são divertidos e possuem produções caprichadas. O DS é provavelmente o gadget mais legal que eu já experimentei. Além de recursos avançados de gráficos 3D e som digitalizado, ele permite vários níveis de interatividade via touch pad, e os melhores games são os que incrementam a jogabilidade com esse recurso. Pokémon Diamond/Pearl/Platinum é um jogo imbecil, no sentido de ser infantil, ter um enredo que é mais uma desculpa para o jogo do que algo que valha a pena seguir, como todo Pokémon, mas quem trabalhou na produção só pode ser gênio. GÊNIO. Qualquer dia eu expando esse assunto.

Já o GBA, que já é um sisteminha ultrapassado, provavelmente tem os melhores remakes de jogos clássicos que eu já vi, no sentido em que é fiel, visualmente, aos originais, e aproveita o que o sistema oferece para acrescentar algo a mais que se integra ao universo proposto pelo jogo, como se aquilo sempre tivesse que ter existido. Final Fight com todas as fases, Shining Force muito melhor que o original do Mega Drive, Defender of the Crown com algum grau de dificuldade e controles úteis (comparando com a versão de PC de 20 e poucos anos atrás), além de bons títulos originais. E Double Dragon Advance, pra mim não só a melhor versão do DD classicão, como também possivelmente o melhor beat'em up que eu já joguei. Tem umas tranqueiras também, como um desastroso jogo de F1 oficial da Eletronic Arts e licenciado pela FIA (com todos os nomes de pilotos e equipes, que custam uma loucura para se obter a licença de uso) e aquela infinidade de jogos de bichinhos e de Yu Gi Oh. Mas o GBA foi uma surra de pau mole na cara de quem acha que a geração de consoles da sua infância foi a melhor e que os jogos atuais são só gráficos. Assim como o DS faz hoje em dia.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A propósito...

...e totalmente por acaso, pouco depois de publicar o último post, comecei a ver as coisas aqui no trabalho (também continuo trabalhando no mesmo lugar, só que agora me pagam :^P), mandei um e-mail para o Museu de História Natural de Estocolmo para tirar uma dúvida sobre uma espécie, e recebi a resposta. O professor que me respondeu tinha um nome que me era familiar, e pesquisando rapidamente vi que ele publicava trabalhos que tinham relação com o que eu fiz no mestrado. Como não tinha minha dissertação à mão para confirmar se eu havia citado algum trabalho dele, tentei ver no google se a UFRJ disponibilizava uma versão online da mesma para eu ver a minha bibliografia.

E não é que, procurando pelo título da minha dissertação, eu encontro um trabalho de paleontologia, publicado em abril desse ano por autores da geologia da UFRJ e do CENPES (o centro de pesquisa da Petrobras) citando o meu trabalho?! Fui citado várias vezes ao longo do artigo, usaram até duas microfotografias minhas (com a referência, como se deve fazer). Fiquei feliz e hiperativo.

Obrigado blog, você deu sorte :^P

Oi, você vem sempre aqui?

Semana passada eu pensei que deveria escrever um pouco. Muita coisa passa pela minha cabeça e desaparece porque eu não falo delas enquanto elas martelam o meu crânio nem registro por escrito. Quase nada mereceria registro, na verdade, mas uma ou outra coisa poderiam ser úteis, pelo menos para mim; esquecer certas coisas pode levar à repetição de algum erro desnecessário ou ao adiamento de algumas decisões e atitudes que se fazem necessárias e ficam escondidas por baixo do tapete. Eu continuo desprezando o twitter, sou prolixo e não consigo me expressar em 14 caracteres.

O ideal seria começar do zero, já que acho que ninguém mais segue isso aqui, talvez nem com esse negócio de RSS, que pra mim é abreviação de "risos" e que eu não entendo nada. Mas, embora eu nunca tenha tido muito apreço por esta versão do meu blog (o meu querido Preto no Branco foi ativo por uns 7 anos até que o site que o hospedava encerrou as atividades), é mais prático deixar as apresentações para o que já está escrito. Continuo com dois braços, duas pernas, muita barriga e pouco dinheiro. Não me peça dinheiro emprestado...

É como se eu me mudasse para um apartamento antigo onde eu vivi há muito tempo, quando tinha um outro estilo de vida, ao qual não estou mais adaptado. Você tem dificuldade em achar os interruptores, e embora a chave da porta seja a mesma, ela se perde no seu chaveiro, que já ganhou novas chaves, e novos chaveiros pendurados junto (pelo menos o meu chaveiro tem, no mínimo, 5 chaveirinhos pendurados). Ainda bem que ninguém se mudou pra cá, iria odiar ter que arrancar um papel de parede cor de rosa. E queimar, dançar sobre as cinzas e cuspir em cima.
 
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