sexta-feira, 9 de julho de 2010

Catucando o CNPq

O CNPq é engraçado. Eles avaliam periódicos científicos com índices de impacto de acordo com o volume de artigos publicados e a periodicidade de publicação de volumes. Esse índice entra no cálculo que o órgão faz para avaliar os cursos de pós graduação pelo Brasil, nota essa que serve como referência para a distribuição de recursos, ou até para o fechamento dos cursos com baixas avaliações. Quanto maior o volume de trabalhos produzidos numa instituição e publicados numa revista de alto impacto, maior tende a ser a nota do CNPq para o curso de pós. Há outros dados nesse cálculo, mas publicações é um fator de peso.

No entanto, segundo os critérios do CNPq, apenas umas poucas revistas brasileiras são consideradas publicações de impacto. Em cada área tem uma ou duas, ou nenhuma, e os pesquisadores ficam se acotovelando, tentando, muitas vezes em vão, publicar seus trabalhos na língua pátria. Para quem não pode esperar (porque os professores e os alunos de pós são pressionados por outras frentes para terem publicações nos seus currículos, seja para progressão profissional, seja para terem mais chances num concurso público onde o currículo seja avaliado), existe uma série de publicações estrangeiras com índices de impacto, que o CNPq considera indiferentemente da nacionalidade da revista. Um tempo atrás entregaram lá no laboratório uma lista de revistas de impacto onde devíamos tentar publicar nossos trabalhos, se quiséssemos que eles valessem alguma coisa. Tinha lá revistas de botânica, entre outras, da Nova Zelândia, do Paquistão, duas da China, África do Sul, e nenhuma brasileira. Tinha até uma de Bangladesh, que depois eu fui conferir, e vi que não publicava um número novo fazia uns 3 anos.

O que o CNPq faz é induzir o pesquisador brasileiro a priorizar revistas estrangeiras, porque sem publicações de impacto, é como se, do ponto de vista da avaliação do currículo, ele não tivesse publicado coisa alguma. Eu tenho um artigo publicado num periódico brasileiro, que a minha orientadora insistiu que eu retirasse do meu currículo quando tentei concurso para doutorado, porque corria o risco da banca baixar minha pontuação quando passasse por ele. Então, como publicar no Brasil não vale nada, as poucas revistas de impacto ficam saturadas, e outras, que teriam condições de suprir a demanda, são ignoradas, ou usadas apenas por instituições pequenas, ou para fins meramente de registro formal de um trabalho científico. O que o CNPq faz é criar um círculo vicioso, um onde as publicações nacionais não tem peso porque não tem volume nem periodicidade, pois ninguém publica nelas, porque elas não tem peso.

Eu me sentiria mais seguro se Steve Wonder estivesse dirigindo.

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