sexta-feira, 16 de julho de 2010

Jornal do Brasil is dead

Ontem eu pretendia escrever uma coisa, mas como vim para o trabalho de trem, preferi parir o que estava mais fresco na memória. Mas durante o dia, entrei no site do Jornal do Brasil e lia coluna de Marcelo Migliacio. Comentei algo lá, que acabou sendo o que eu pretendia escrever aqui. Foi algo mais ou menos assim:

Eu soube que o JB impresso está para sair de circulação pela voz de um dos âncoras da rádio do grupo rival. Eu não acreditaria, se não houvesse acompanhado a decadência dessa publicação nos últimos anos. Fui criança nas últimas gestões do regime militar, e o JB era o único jornal que entrava pela porta de casa. Só li o JB até os primeiros anos da minha idade adulta, e nenhum outro jornal ou revista semanal.

Ao contrário dos outros jornais, que lambiam as botas de quem quer que estivesse no poder, pelo JB eu tinha uma janela para a realidade nacional e internacional que ajudou a me formar um cidadão. Os editoriais eram mais coerentes, as tiras eram as mais divertidas, e até esportes, com cobertura televisiva rival, tinham mais atenção no JB do que no impresso global. O avanço dos diários ditos "populares", os "jornalixos", desses que você dobra e deles escorre sangue e sexo, e o avanço do poder econômico do concorrente de fato (em parte, alimentado pelos seus subsidiários "populares") foi o sinal de que algo precisava ser feito.

Mas não foi. O JB perdeu visibilidade, reduziu seu tamanho, as matérias e, minha queixa pessoal, a seleção dos articulistas (falo de um que vê comunistas doutrinadores até em livros de matemática para o Ensino Fundamental... e era justamente sobre isso que dizia a última coluna dele que eu li, no JB) já não tinha o mesmo critério. Ziraldo e toda a turma ainda deram uma bela repaginada no caderno B, que sem dúvida continuou ainda por algum tempo como o melhor caderno cultural da cidade, mas hoje, não mais.

Não é uma morte súbita, é algo que já vinha sendo anunciado há alguns anos. Tenho guardada a edição de 100 anos da República, publicada em novembro de 1989, com fac similei de reportagens, manchetes, fotos do JB desde 1891. Também tenho o especial O Jornal do Século, que conta, através das reportagens do JB, toda a história do mundo no século XX. Esse foi o século de glória do Jornal do Brasil, o ponto mais brilhante do firmamento jornalístico nacional. O novo século está aí, com todas as suas mudanças, nem todas para a melhor. Espero que o espólio do JB - seus jornalistas e articulistas - continuem com sua postura e se firmem como um ponto brilhante no obscurantismo do mercado da informação no Brasil.

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