quarta-feira, 21 de julho de 2010

Política de Photoshop

Já começou a campanha eleitoral. Os cartazes já estão nas ruas, nos muros, nas casas, em toda parte. Mas, além da horrenda poluição visual, que é de praxe, algo me incomoda demais nessas propagandas. Nas fotos, além dos sorrisos falsos e da pinta de "homens e mulheres que trabalham", eles recebem um tratamento de Photoshop tão horroroso, que parecem todos personagens da Pixar. Nenhum deles tem rugas, linhas de expressão, sombras, fios de cabelo branco, e os dentes e o branco dos olhos são quase fluorescentes. A Dilma Rouseff parece ter saído do longa Os Incríveis ou Toy Story. Para não ser injusto com a classe política, as propagandas do supermercado Guanabara, em cartazes nos pontos de ônibus, exibem o mesmo tratamento grotesco nas fotos dos artistas. O Marcos Pasquim, na atual campanha, parece Galadriel querendo pegar o Anel de Frodo no Senhor dos Anéis. Queria até pedir a opinião de algum fotógrafo profissional a respeito, porque me parece que antes do Photoshop, quando os fotógrafos precisavam trabalhar com ângulos, luzes, filtros e técnicas de revelação para fazer as fotos "perfeitas", elas saíam bem menos aberrantes do que quando editadas por nerdz espinhentos que entendem de edição de imagem mas não de fotografia...

Nos cursos de animação que eu fiz, os professores diziam que o ideal de uma animação é que ela imite a realidade, mas evite, na medida do possível, reproduzi-la. Os animadores em 3D sabem que quanto mais você tenta se aproximar da realidade, menos real parece o desenho, o modelo, a animação, porque o cérebro detecta os menores detalhes de uma imagem e a identifica como "falsa". Lembro do longa chatérrimo de Final Fantasy, em que a Sony enchia a própria bola falando sobre como as peles tinham texturas e movimentos próximos à realidade, mas quando você assiste, é tão óbvio que aquilo é irreal que incomoda. Esse incômodo não acontece quando você assiste um cartoon bem trabalhado, como Pernalonga, ou uma animação 3D mais caricata, como o citado Os Incríveis, porque, por estarem afastados dos padrões que nós reconhecemos como "reais", nós não temos bloqueio nenhum. E mais, um Pica Pau que se deforma até virar uma bolinha no chão antes de dar um puta salto pra cima, com o corpo se esticando 3 vezes a sua altura normal, é interpretado como algo absolutamente normal pelo nosso cérebro, e "falso" seria se fosse diferente. Os desenhos do Maurício de Souza nunca emplacaram exatamente por isso, seus personagens são sólidos e rígidos como pessoas reais, e se movimentam como elas, apesar de caricatos em seus traços. É chato demais se ver.

Voltando ao Photoshop, os trabalhos de edição de menor qualidade (os mais baratos, imagino, que estão sendo empregados por toda a parte) pecam ao transformarem tanto os modelos a ponto do cérebro não reconhecê-los como reais, porque reproduzem uma realidade que não é natural. Acho que quem depende de imagem, como os políticos, deveriam ser mais criteriosos com quem trabalha com elas, porque o que se vê é um lixo e provoca todo tipo de sentimento, menos simpatia.

Se bem que tem gente que vê a própria foto tratada com o rosto parecendo de massinha e dentes de raio laser e acha linda :^P

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