quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pé de que? Ninguém sabe.

Ah, nada como um pneu furado no seu ônibus logo pela manhã, no dia que corresponde à segunda feira desta semana :^P

Uma manhã de ventanias e chuvas inesperadas em alguns pontos da cidade, segundo os meus informantes. Pelo menos, a chuva chegou, porque temperaturas de verão e pluviosidade de inverno é foda.

Falando em clima, por algum motivo, as amoreiras do Rio de Janeiro estão particularmente carregadas este ano. Não que estejam cheeeias de amoras, porque o clima carioca não permite, mas estão produzindo muito mais amoras do que de costume. Inclusive, eu mudo meu caminho a pé para o trabalho, pegando uma rua que sobe um morro, só pra passar por uma amoreira que cresce por ali e catar duas ou três amoras.

Aliás, estou convencido de que os cariocas não conhecem amoras. Vejo os nativos tacando pedras em mangueiras ao menor sinal de mangas em estágios precoces de desenvolvimento, só para dar umas lambidas na polpa azedíssima de mangas verdes, às quais jogam fora logo em seguida, e no entanto, mesmo as amoreiras plantadas em lugares movimentados, como calçadas ou próximo a pontos de ônibus sempre tem amorinhas pretinhas penduradas. Ninguém come porque, primeiro, não sabem identificar a planta (e, por isso, nem prestam atenção), e, segundo, porque possivelmente não sabem que porrinha preta é aquela. Nem minha mãe, que conhece as amoreiras portentosas da sua cidade natal, percebeu que no caminho entre a nossa casa, onde moramos há 5 anos e meio, e o ponto de ônibus existem 4 pés.

Uma vez escrevi no meu blog antigo, dissolvido e retornado ao Tao a essa altura, que o desconhecimento do que pode ou não ser comido é uma tragédia. Seria só um "facepalm" cultural, se não vivêssemos num país onde tanta gente ainda vive no limite da segurança alimentar, sobretudo moradores de ruas e áreas carentes das grandes cidades, e também se não fosse algo tão simples de ser resolvido. Porque a arborização urbana, falando especificamente do Rio de Janeiro, é abundantemente composta de árvores produtoras de frutos ou sementes comestíveis, não apenas saborosas, mas altamente nutritivas. Amendoeiras-da-praia, cuja polpa doce é comestível (das amêndoas de polpa branca, as rosadas são muito amargas) e cujas sementes também podem ser consumidas, assim como as sementes do chichá e das castanheiras-do-maranhão, sem falar nos jamelões, cujos frutos mancham as calçadas de preto, dos pequenos figos vermelhos da Ficus clusiifolia, que eu considero mais saborosos do que os figos comerciais, e dos tamarindos que caem de maduro nas praças, prontos para serem consumidos. Além das amoreiras, que permanecem praticamente intactas, largadas à avidez sem paladar dos pássaros.

Não é uma lista muito grande, mas todas estão entre as árvores mais cultivadas em espaços públicos na cidade, cujos frutos e sementes são pisoteados ou deixados aos animais, enquanto moradores de rua vasculham lixeiras à procura de algo orgânico que possam engolir, e gastam o pouco que tem com biscoitos. E, para muitas famílias carentes, uma árvore dessas, ou mesmo uma pequena horta no seu quintal ou na sua rua poderia aliviar a fome, ou remover um pouco do orçamento para a compra de alimento para ser gasto com outras coisas, até com o tão ambicionado conforto dos bens de consumo, sem tanto prejuízo para o bolso.

O que é preciso para ensinar essa gente?

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