segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Cisne Negro - review sem spoilers

Domingo prestei concurso para a UFRJ, e saberei como fui ainda hoje. Nos ultimos dias, dando uma folga aos estudos de ultima hora (aqueles em que vc apenas pega a materia para lembrar o que voce ja sabe e tentar decorar o que ainda nao entrou direito na cabeca), fui quinta-feira ao cinema assistir Cisne Negro com minha namorada, seus sobrinhos e uma prima. Antes da critica, uma sinopse.

Nina, a personagem principal interpretada por Natalie Portman eh uma jovem bailarina que, motivada pela mae (uma ex-bailarina que abandonou a carreira para criar a filha) almeja o estrelato numa companhia de ballet. O diretor da companhia precisa de uma cara nova para o papel principal de O Lago dos Cisnes. Nina tem a graca e a pureza do Cisne Branco, mas nao possui a intensidade e a malicia necessarias para interpretar o Cisne Negro. Para poder assumir o papel, ela precisa enfrentar seus problemas para liberar um lado oculto de sua personalidade.

Primeiro: foi um erro assistir esse filme com um dos sobrinhos, que ainda eh moleque, pois a pelicula tem uma cena com drogas e cenas eroticas fortes em pelo menos 4 momentos (classificacao 16 anos, mas soh pq nao ocorre penetracao, eu imagino :^P).

Segundo: eh possivelmente a melhor atuacao da Natalie Portman, pelo menos a primeira que me deixou de queixo caido. O filme eh todo centrado nela, e ela nao deixa ninguem roubar a cena. O filme eh todo dela. Tem Wynona Ryder, Barbara Hershey, Vincent Cassel e Mila Kunis, todos com boas interpretacoes, mas Natalie domina todas as cenas.

Terceiro: a trilha sonora eh basicamente O Lago dos Cisnes. A intensidade das cenas, e preparacao para os momentos de tensao, e os momentos de crise sao marcados por diferentes trechos da obra. Quem jah ouviu musica classica na vida provavelmente vai reconhecer a melodia, mas ela some e eh totalmente incorporada pela imagem, como se ela mesma fizesse parte do cenario ou estivesse expressa nos rostos e movimentos dos atores.

Quarto: a fotografia do filme eh maravilhosa. As cenas tem poucas cores, mesmo em ambientes claros e ensolarados (muitas cenas sao escuras, com uma luz vacilante), realcando a contraposicao entre as faces do Cisne Branco e do Cisne Negro presentes na personagem Nina. A camera na mao, entrando no palco e dancando com os bailarinos ou acompanhando os passos de Nina na rua, em casa ou nos ensaios, mantendo um ritmo de acordo com a intensidade da cena, eh envolvente.

Quinto: o enredo eh bem inteligente. A principio, pela sinopse mesmo divulgada, sabe-se que a personagem principal encara uma face obscura da sua personalidade que ela vai desvendando com o tempo, mas o filme nao deixa claro ateh proximo do fim quais as verdadeiras causas dos fenomenos que a personagem experimenta - seria uma mae super controladora e maniaca, o diretor aproveitador, a colega presumivelmente sabotadora, uma "assombracao" que parece aparecer de vez em quando talvez? Toda a narrativa eh centrada em Nina, quase como em primeira pessoa, entao o espectador soh sabe o que esta acontecendo pelo olhar da protagonista, de modo que ateh a fantasia se torna indistinguivel da realidade. Nao ha aqueles closes em olhares dos coadjuvantes pelas costas de Nina, nem dialogos que Nina nao tenha conhecimento. O suspense estah em nao saber de onde vem o perigo, e a inteligencia da coisa estah em que o perigo sempre esteve ali.

Um dos melhores filmes que eu tenho visto ultimamente. Vou torcer pra ele no Oscar :^P

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

CEDAE atendeu meu e-mail, e os direitos que você tem

Há pouco menos de dois meses escrevi um texto rabugento falando sobre a falta de água no meu bairro. É um problema crônico que ocorre todo verão, além de eventuais épocas de grandes eventos na cidade, quando o sistema de distribuição da CEDAE, já normalmente operando no limite, não consegue suprir toda a demanda da cidade.

Mas isso não é da minha conta. Aliás, apenas o que vem na conta é da minha conta :^P

Enfim, durante o mês de janeiro a coisa piorou. Entre o final de janeiro e início de fevereiro, as torneiras secaram completamente. Nem sequer o fiozinho de água que chegava de madrugada e que de manhã ainda possibilitava de encher alguns baldes para passar o dia estava chegando mais. Esses dias os bombeiros foram até em casa para resolver um problema com marimbondos, e disseram que tinhamos sorte de ser um problema que não precisava de água para ser resolvido, porque no próprio quartel deles no bairro não havia água. Domingo passado completaram-se 10 dias na seca, sobrevivendo com água retirada da cisterna do vizinho.

Sábado, irritado com a situação, e com 8 protocolos não atendidos, resolvi apelar. Me lembrei que a Constituição Federal Brasileira, em resumo, garante que, desde que cumpridas todas as obrigações previstas, não existe cidadão mais importante neste país do que eu (ou você), e que eu não precisava me conformar com a desorganização da parte da companhia responsável pelo atendimento a população. Entrei no site da CEDAE, peguei o e-mail do gabinete do presidente, e escrevi um e-mail alertando-o da situação no bairro (citando desde a falta de água para higiene pessoal nas residências até a queda na produção industrial e na atividade comercial; citei ate o caso dos bombeiros).

As pessoas pensam "imagina que o cara vai se preocupar em ler um e-mail de um zé qualquer", e nem tentam procurar quem pode realmente resolver seus problemas. Todos os deputados estaduais e federais (não sei se todos os vereadores, imagino que pelo menos os da cidade do Rio sim) tem e-mails para contato disponíveis. Claro que a maioria deixa essa parte da comunicação com a sua assessoria (como deve ter sido o meu caso, por exemplo), mas uma vez que a reclamação chegam o cara sabe que tem alguém descontente, e que ele espera que, pelos devidos meios, um problema seja resolvido. Demonstrar nesses casos noções de cidadania é fundamental, pois aí o sujeito sabe que o reclamante conhece seus direitos, e vai fazer a República cair para conseguí-los, se necessário, porque sabe que a lei está ao seu lado. Reclamar grosseiramente, sem saber porque nem a quem, por outro lado, é ser um "ze qualquer" e pedir para ser ignorado.

Resultado: no domingo a noite, no décimo dia de seca, quando cheguei em casa, uma das caixas d`água estava enchendo, e pude tomar um banho apropriadamente. Eu sei que meu e-mail teve efeito, porque no dia seguinte ligaram lá para casa da CEDAE, perguntando sobre dados que eu incluí no e-mail (enviei em nome da Trixx Design, a micro empresa que põe comida na nossa mesa) para saber se o serviço fora restabelecido.

Sei de alguns outros bairros da cidade que estão enfrentando fornecimento irregular de água. Se este é o caso, e você está em dia com as suas obrigações, é direito seu exigir o serviço. Passe por cima do atendimento ineficiente do 0800 e recorra a quem pode de fato resolver o seu problema, pois muitas vezes a solicitação fica presa entre o atendente e o sistema de informação da companhia, ou para em algum gerente que não tem a competência ou a autonomia para remanejar o sistema e direcionar água para a sua área. Se não for água, mas for asfaltamento, iluminação, segurança, educação, ou qualquer outro, denuncie a quem tem o poder de resolver seu problema, e se os canais de comunicação estiverem fechados, recorra a imprensa, a internet, a associação de moradores, aproveite que estamos num país onde muitos deram o sangue para que tivéssemos uma legislação que nos protege e para que pudéssemos exigir dos governantes nossos direitos para por a boca no trombone. Todo mundo espera sempre que alguém surja e faça alguma coisa e ninguém assume a responsabilidade de ser esse alguém; se existe um salvador do mundo, ele já veio e já se foi há 2 mil anos, então é melhor a gente se virar.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Desenhando no hospital

Sábado à noite chamamos os bombeiros para retirarem os diversos ninhos de marimbondos que se formaram ao redor da casa, sob o telhado. Ele tiraram os ninhos com fogo, enquanto eu matava os que ficaram dentro de casa com inseticida, mas muitos marimbondos escaparam. Perto da meia noite, senti algo subindo pelas minhas costas, e quando dei um tapa para tirar dali, ele me picou no dedo - era um dos sobreviventes.

Eu tomei várias picadas de marimbondos, algumas recentemente, então não me importei muito depois que a dor inicial desapareceu. Porém, no dia seguinte, minha mão estava uma bola, e durante o dia a inflamação só fez aumentar. Ontem de manhã, portanto, estava eu na emergência do hospital municipal Lourenço Jorge, esperando pra tomar um anti histamínico.

Esse hospital em particular não tem muitos sinais daqueles açougues que aparecem na televisão. É limpo, bem conservado, presta serviço em diversas especialidades, e é equipado para lidar com acidentes com animais. Então, estava eu sentado, esperando na fila para a triagem (um médico atendia as pessoas na sala de pequenas suturas, e encaminhava para a sutura, para o médico de trauma buco-facial, ou para a sala de hipodermia, onde se faz as injeções). Para passar o tempo, como de praxe, tirei um calhamaço de papel de impressora matricial, a lapiseira, e comecei a desenhar.

Pouco depois, um tiozinho que veio acompanhando o filho, ferido no braço, perguntou se eu desenhava. Ele me disse que também adorava desenhar, que vivia de vender desenhos e pinturas feitos rapidamente por 50 centavos a folha, e pediu para desenhar nos meus papeis. Então passamos o tempo nisso. Estávamos desenhando tão animadamente que uma moça que acompanhava uma amiga que também se juntou a nós. Tomei minha injeção, e me foi dito para esperar meia hora. Voltei, e continuamos a desenhar, como se estivéssemos numa colônia de férias, e não na emergência de um hospital. Depois tomei uma antitetânica (pra aproveitar a viagem) e fui embora.

Muito curioso.
 
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