quinta-feira, 28 de junho de 2012

O BRT da Transoeste como ele é

Muito bem, nos próximos 4 anos o Rio de Janeiro sediará Copa das Confederações, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Uma das preocupações da FIFA e do COI é com acessibilidade e transporte urbano. Para contornar o problema, as três esferas do poder público investiram, entre outras obras menores (pavimentação, transportes alternativos para pequenos trechos, ciclovias), na construção de três vias expressas e uma nova linha de metrô. Dos 4 principais projetos, apenas um está em fase de implementação: A Transoeste - via expressa que liga a Barra da Tijuca até Santa Cruz, no extremo oeste da cidade - e o Bus Rapid Transport, ou BRT (ônibus articulados que circulam por faixas exclusivas e param apenas em estações construidas ao longo da via. A Transoeste é um projeto mais antigo que as viagens à lua, previsto no plano diretor da cidade desde, pelo menos, os anos 1960. Chega a ser espantoso que uma obra de grande porte esteja pronta com um ano de antecedência ao primeiro evento capital, que será a Copa das Confederações, em 2013, mas trata-se de algo que a população espera desde o tempo do onça e nunca foi feito. Agora o prefeito posa de heroi ao lado do Lula e do governador adúltero, como se o trio fosse o idealizador da coisa. O espanto se desvanece um pouco mais se lembrarmos das eleições municipais daqui a alguns meses, e aposto partes do meu corpo como alguém se vangloriará de ter cumprido com a sua responsabilidade como se fosse um favor. O BRT está em circulação já há algumas semanas, primeiro em fase de testes, e agora totalmente operacional, esperando apenas o término de algumas estações. Haverá ainda uma ramificação do sistema, com a criação de uma faixa exclusiva na rua Cesário de Melo, ligando Campo Grande à Transoeste a partir de Santa Cruz. E nesse tempo, eu já pude experimentar o serviço algumas vezes, e preciso fazer algumas observações. A principal promessa dos outdoors da prefeitura era de que a viagem da Barra para Santa Cruz demoraria metade do tempo. Assumindo que seria metade do tempo a partir do terminal Alvorada, ponto final dos BRT, vou dar essa folga para eles. Então, eu cronometrei o tempo de viagem a partir da saída do terminal até a estação que foi construída (não prevista no projeto original) na entrada do meu bairro, e vi que, comparado com o ônibus comum, há uma defasagem de cerca de 15 minutos (considerando que o ônibus comum me deixa na esquina de casa, cerca de 1,5km adiante da estação do BRT). Como eu não usei o BRT em horário de grande movimento de trânsito e passageiros, até posso relevar e atribuir a diferença à bandalheira que é o ônibus comum, que não para nos pontos e ignora o sinal dos passageiros na rua, enquanto o BRT é obrigado a parar em todas as estações, mesmo sem ninguém para subir ou descer. Talvez, quando o comum tiver que carregar passageiros (sobrecarregar, na verdade, já que cada ônibus desses para a Zona Oeste leva uma lotação cerca de 50% acima do permitido), talvez a diferença diminua. Há duas "linhas", com os mesmos destinos: uma que segue direto para Santa Cruz, parando em poucas estações marcadas pelo caminho, e o parador. Talvez o BRT direto consiga cumprir a promessa do menor tempo de viagem, mas para usufruir dele, muitos teriam que tomar várias conduções para chegar à estação da rota direta mais próxima. Pouco prático para o meu bairro, por exemplo. Ainda sobre o tempo, ficou estabelecido que os usuários do BRT teriam o direito à integração de até três viagens com o valor de R$2,75, desde que as três conduções sejam usadas na ordem ônibus "convencional/alimentador - BRT - ônibus convencional/alimentador", e que as três conduções sejam utilizadas dentro de duas horas. Ora, nos meus testes, saindo do Jardim Botânico, tenho chegado à estação do BRT no meu bairro, entre girar a roleta do primeiro ônibus e chegar ao ponto onde passaria o terceiro, em cerca de 1 hora e 50 minutos, em horário de pouco movimento, restando para mim, apenas, 10 minutos para que um outro ônibus tenha boa vontade de passar, o que vai um pouco contra a estatística de frequência dos ônibus naquele lugar. Se alguém trabalha em Botafogo e precisa chegar na altura da estrada do Magarça (alongando o trajeto em, digamos, 10km), mesmo sem trânsito, nunca conseguirá usar a terceira condução com a mesma passagem. Em horários de pico, então, ele terá sorte se chegar ao Alvorada em menos de duas horas. Daí eu puxo para a questão da lotação. Quando o BRT foi anunciado, pensei em duas possibilidades: ou ele absorveria parte dos passageiros das linhas da Zona Oeste, aliviando os ônibus comuns como uma opção a mais de transporte; ou as duas companhias que dominam essas rotas retirariam carros de circulação, já que elas também operam os BRT, para manter a lotação acima do permitido, carregando o máximo de gente com o menor custo possível (o que os funcionários chamam de "bife", ou seja, toda a arrecadação acima do estimado que um ônibus consegue durante a viagem). Pelo que eu tenho observado no horários de pico, a segunda possibilidade é a que vem se concretizando, com ônibus super lotados, tanto os comuns como os BRT. Ao invés de absorver o excesso, este excesso está sendo apenas remanejado. Em uma fase posterior, as linhas que ligam os bairros da Zona Oeste à Barra serão modificadas, e sairão de seus terminais na Zona Oeste e irão apenas até estações específicas da Transoeste, deixando de circular pela Barra (que tem já a sua própria linha alimentadora). Por mim tudo bem, porque uma dessas linhas é a que circula pelo meu bairro, e ela continuará nos servindo, porém, então, ligando Campo Grande até a estação mais próxima. Essas alterações estão condicionadas a uma ampliação do corredor do BRT até o começo da Barra, no Jardim Oceânico, que é o destino final dessas linhas da Zona Oeste, e essa ampliação não foi feita por força da playboyzada da Barra que tem nojo de campograndense em seus shoppings e praias. O problema é que ninguém sabe se as alterações serão feitas mesmo assim, ou se realmente se esperará o momento em que o BRT circulará por todo o trajeto das antigas linhas, porque elas já deveriam ter sido colocadas em prática, segundo os informativos da prefeitura, e não foram. Caso o primeiro aconteça, obrigará pessoas a usarem, pelo menos, três conduções onde até uma seria suficiente. Vejo os empregadores olhando isso sem muita simpatia nem compaixão, e a própria incerteza pode ser prejudicial para os negócios e os empregados. Como pontos positivos estão o tempo de espera, que tem parecido regular e curto (tenho visto carros saírem de 10 em 10 minutos), ao contrário do que acontece nas linhas convencionais, algumas das quais com intervalos médios entre um ônibus e outro de cerca de 40 minutos. As estações são bem sinalizadas, com painés mostrando os horários dos veículos e postos automáticos de recarga do RioCard. Os ônibus são confortáveis, circulam a uma velocidade segura, mas, se você estiver em pé espremido contra a porta, dificilmente você sentirá algum benefício. Moral da história: não vote nesses filhos das putas que acham que o povo é idiota. Embora talvez até seja.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Hormônios, evolução do conhecimento, e patifes na ciência

Li em algum lugar (um artigo científico, creio, mas não o encontro em lugar algum) que um dos mecanismos que conduziram a evolução da linhagem humana no sentido do desenvolvimento técnico, científico e intelectual seria a peculiar emoção de descoberta e realização, o sentimento singular de satisfação e realização quando se encontra diante de uma solução ou resposta para um problema que se apresente. Esta emoção é mediada por hormônios que atuam no cérebro com efeito semelhante ao da paixão (a ocitocina), com um estímulo a mais para fazer a pessoa prosseguir à procura de mais respostas, relacionadas ou não com o problema resolvido. E, a longo prazo, induziria o indivíduo a continuar a buscar o prazer da descoberta. Diferentes níveis de hormônio liberado nessas situações, e diferentes níveis de sensibilidade a ele, poderiam explicar diferentes atitudes em relação à busca de um aprimoramento intelectual, embora não necessariamente à capacidade de aprendizado (a apatia diante de uma informação nova, contudo, certamente não é o melhor estímulo para continuar a estudar). Antes que darwinistas sociais comecem a pular das cadeiras e usar este dado para justificar avanços de algumas culturas não atingidos por outras mais "primitivas", é importante notar que, para que haja uma evolução técnica, a solução de um problema imposto, é preciso que este problema seja, de fato, imposto, e que os indivíduos ou a comunidade realmente o encarem como um "problema". A roda parece ter sido a coisa mais útil já inventada pelo homem, sobretudo para o transporte, mas em culturas onde não havia animais capazes de puxar veículos com rodas, elas nunca chegaram a ser inventadas - e, como exemplo disso, pode-se citar as três maiores civilizações americanas dos últimos séculos antes da chegada dos espanhois. O estímulo para criar o veículo com rodas nunca existiu, mas esses povos adquiriram conhecimentos altamente sofisticados em outras áreas que os europeus instruídos do século XVI tinham apenas algumas noções rudimentares. Cinco mil anos se acotovelando em solo europeu e guerreando com seus vizinhos (o problema com o qual eles tiveram que lidar para sobreviver) deram aos europeus a vantagem do grande desenvolvimento bélico, que fez toda a diferença no momento da conquista (além das doenças que traziam consigo). Enquanto eu absorvia o dado sobre a ação hormonal como incentivo bioquímico para o desenvolvimento do conhecimento, pensei logo nos cientistas, cujo trabalho se deduz em novas descobertas técnicas e teóricas para problemas persistentes. Pensei primeiro: "tá aí um grupo de gente cheia de hormônios da cabeça". Mas, embora a grande maioria dos profissionais da ciência que eu conheço pareçam se empenhar em suas pesquisas pela paixão por elas (suportando, até, o salário minguado para alguém da sua importância na sociedade), há pessoas, com renome no meio, até, que não sintam qualquer emoção diante do resultado de seus estudos, como se tudo já estivesse programado e tivesse que acontecer uma hora ou outra. A sua satisfação, que os motiva, reside no status que o seu trabalho lhes confere entre seus colegas. Como quem entra no facebook e posta algo bem pensado, mas impessoal e de autoria de outrem, apenas para ver quantos comentários vai receber, e, por algum acaso, o post terá utilidade para alguém. Eu sou dos primeiros, que não consegue ficar quieto diante de uma dúvida até que ela seja respondida, e tem particular prazer na sensação de trabalho concluído, mas a prova de que eu não sou um desses últimos é este blog, praticamente estéril de comentários, mas com alguns anos de idade e muito tempo empenhado para elaborar o conteúdo original de cada post :^P

terça-feira, 19 de junho de 2012

Uma ideia, duas frases

O papel em branco é uma ideia que não nasceu. Eis a excruciante angústia que é a responsabilidade de criar.
 
eXTReMe Tracker