segunda-feira, 25 de junho de 2012

Hormônios, evolução do conhecimento, e patifes na ciência

Li em algum lugar (um artigo científico, creio, mas não o encontro em lugar algum) que um dos mecanismos que conduziram a evolução da linhagem humana no sentido do desenvolvimento técnico, científico e intelectual seria a peculiar emoção de descoberta e realização, o sentimento singular de satisfação e realização quando se encontra diante de uma solução ou resposta para um problema que se apresente. Esta emoção é mediada por hormônios que atuam no cérebro com efeito semelhante ao da paixão (a ocitocina), com um estímulo a mais para fazer a pessoa prosseguir à procura de mais respostas, relacionadas ou não com o problema resolvido. E, a longo prazo, induziria o indivíduo a continuar a buscar o prazer da descoberta. Diferentes níveis de hormônio liberado nessas situações, e diferentes níveis de sensibilidade a ele, poderiam explicar diferentes atitudes em relação à busca de um aprimoramento intelectual, embora não necessariamente à capacidade de aprendizado (a apatia diante de uma informação nova, contudo, certamente não é o melhor estímulo para continuar a estudar). Antes que darwinistas sociais comecem a pular das cadeiras e usar este dado para justificar avanços de algumas culturas não atingidos por outras mais "primitivas", é importante notar que, para que haja uma evolução técnica, a solução de um problema imposto, é preciso que este problema seja, de fato, imposto, e que os indivíduos ou a comunidade realmente o encarem como um "problema". A roda parece ter sido a coisa mais útil já inventada pelo homem, sobretudo para o transporte, mas em culturas onde não havia animais capazes de puxar veículos com rodas, elas nunca chegaram a ser inventadas - e, como exemplo disso, pode-se citar as três maiores civilizações americanas dos últimos séculos antes da chegada dos espanhois. O estímulo para criar o veículo com rodas nunca existiu, mas esses povos adquiriram conhecimentos altamente sofisticados em outras áreas que os europeus instruídos do século XVI tinham apenas algumas noções rudimentares. Cinco mil anos se acotovelando em solo europeu e guerreando com seus vizinhos (o problema com o qual eles tiveram que lidar para sobreviver) deram aos europeus a vantagem do grande desenvolvimento bélico, que fez toda a diferença no momento da conquista (além das doenças que traziam consigo). Enquanto eu absorvia o dado sobre a ação hormonal como incentivo bioquímico para o desenvolvimento do conhecimento, pensei logo nos cientistas, cujo trabalho se deduz em novas descobertas técnicas e teóricas para problemas persistentes. Pensei primeiro: "tá aí um grupo de gente cheia de hormônios da cabeça". Mas, embora a grande maioria dos profissionais da ciência que eu conheço pareçam se empenhar em suas pesquisas pela paixão por elas (suportando, até, o salário minguado para alguém da sua importância na sociedade), há pessoas, com renome no meio, até, que não sintam qualquer emoção diante do resultado de seus estudos, como se tudo já estivesse programado e tivesse que acontecer uma hora ou outra. A sua satisfação, que os motiva, reside no status que o seu trabalho lhes confere entre seus colegas. Como quem entra no facebook e posta algo bem pensado, mas impessoal e de autoria de outrem, apenas para ver quantos comentários vai receber, e, por algum acaso, o post terá utilidade para alguém. Eu sou dos primeiros, que não consegue ficar quieto diante de uma dúvida até que ela seja respondida, e tem particular prazer na sensação de trabalho concluído, mas a prova de que eu não sou um desses últimos é este blog, praticamente estéril de comentários, mas com alguns anos de idade e muito tempo empenhado para elaborar o conteúdo original de cada post :^P

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