sábado, 22 de agosto de 2015

Cocos em volta de uma lata de lixo vazia

Eu escrevi isso há algumas semanas:


A foto é ruim porque foi tirada à distância já ao anoitecer. Fim do dia na Praia do Pepê. Até uma hora antes, estava cheio de gente. Naquele momento, o que restou: uma lixeira cercada de cocos vazios. Toda a área da areia em frente ao deck de uma paleteria estava cheia de cocos e outros detritos. Uns barraqueiros até juntaram seu próprio lixo em torno de outra lixeira. Mas o que os banhistas consumiram ficou para trás. Apesar das lixeiras posicionadas a 10, 15 metros umas das outras, nenhuma delas aparentemente cheias que justificasse não jogar mais coisas dentro, pelo que deu para ver de onde eu estava, e pelo que eu procurei registrar na foto.

Fiquei pensando por que as pessoas não se deram ao trabalho de jogar os cocos na lixeira. Na foto eles foram displicentemente deixados em volta da lixeira, que esteve ali aberta o dia inteiro. Me ocorreu que, talvez, sejam aquelas pessoas que se justificam dizendo que estão dando trabalho para os garis (que fazem o trabalho fenomenal de deixar aquilo absurdamente limpo no dia seguinte). E me ocorreu que essas pessoas provavelmente são aquelas que delegam a outros funções que as aborrecem ou que achem indignas. A função trivial de dar o destino apropriado ao seu próprio lixo.

E pensei mais. Eram muitas pessoas na praia e muitos cocos na areia, logo, era muita gente que não sai do seu lugar sequer para dar cinco passos até uma lixeira e jogar seu lixo lá dentro. Será que essas pessoas saem do seu lugar para coisas mais importantes e mais difíceis de se fazer (como trabalhar em soluções para o bem estar coletivo de moradores e empregados dos seus condomínios, do seu bairro, da sua cidade), ou delegam isso a outros também?

Eram muitos cocos. É muita gente que estabelece essa relação de dependência quando se recusa a fazer algo que exige que ela se mova. Porque escolher não fazê-lo não elimina a sua necessidade. Então se ela se furta de discutir planos para ocupação dos espaços urbanos, por exemplo, ela delega essa função a um político. Este político, que deveria ser um representante dessa pessoa adquire uma autonomia (e, portanto, uma potencialidade de poder) que não corresponde com a sua função. A apatia do cidadão cria mandatários muito mais poderosos do que deveriam.

De repente eu entendi porque somos um povo que dá tanta bola para os políticos. Porque somos um povo (desleixado) que espera eternamente que os bons exemplos de conduta e ética venham de "cima" (DE CIMA!). Porque estamos sempre buscando por líderes e heróis que nos mostrarão o caminho ou o que fazer e que nos conduzirão como crianças aqui e ali.

Sob uma perspectiva anarquista, digo tudo isso em tom de repreensão, e convoco para um momento de reflexão sobre quem vocé é e qual o seu papel na sociedade. A quem você serve?

Cocos na areia em volta de uma lixeira.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Preconceito: o meu e o seu

Dentre as muitas causas possíveis, estive pensando como o preconceito (dos mais graves e violentos até os mais banais) tem uma raiz fincada na falta de empatia pelo outro. E aí eu me deparei com um nó lógico, porque eu não consigo distinguir o que é a causa ou a consequência: a falta de empatia, e o fechamento da visão de mundo em si mesmo, ou seja, quando uma pessoa toma a si mesma como medida de todas as coisas.

Vou pegar um exemplo, que foi o que deu ignição neste pensamento ontem, enquanto estava no ônibus, preso no trânsito, e já peço desculpas adiantadas a todo mundo (e é muita gente, acho que a maioria dos meus amigos está entre eles) que está no alvo do meu preconceito:

Tatuagens.

Luto contra um preconceito meu contra tatuagens. E embora eu não possa esperar que me perdoem por ele, ao menos eu localizei a sua causa. A causa está em mim mesmo.

Preconceito é uma reação irrefletida a uma situação que não se encaixa em um padrão óbvio. Falo de padrões porque eles são mais ou menos construídos inconscientemente na nossa mente, porque nenhum preconceito resiste à razão. É imprescindível, para que haja preconceito, que a razão esteja momentaneamente suprimida. Uso como exemplo aqui um truque que qualquer um pode fazer em casa. Vá para o banheiro e, à meia luz, olhe-se nos olhos fixamente através do espelho por uns 5 minutos. O que é uma imagem processada conscientemente no início (você, a parede atrás de você, a toalha pendurada ao lado, o vaso quase fora do campo de visão no canto abaixo, etc.) aos poucos parece obscurecer enquanto você mira seus olhos. O seu corpo e o seu rosto (assumindo que você continua fixo nos seus olhos) podem começar a parecer estranhos, enquanto tudo em volta começa a ficar obscurecido e confuso. Porque você forçou o seu cérebro a fixar a atenção em um detalhe, onde ele estabeleceu um padrão, e tudo em volta, à medida em que se afasta do foco de atenção, fica cada vez mais confuso, porque o cérebro "se esqueceu" de processar aqueles padrões, que continuam lá, e os substituiu por imagens do inconsciente ou o que quer que estivesse na fila para se expressar ali e "preencher" esse vazio cognitivo. Descrever o mundo sob a ótica do preconceito é como descrever as assombrações que apareceram no espelho durante a experiência.

Antes de voltar às tatuagens, vou contextualizar um pouco. Durante a infância e a juventude nunca passei necessidades. Meu pai tinha um emprego que pagava bem e nossa família teve algum conforto. Até meus vinte e poucos anos eu tinha esse backup financeiro em casa que fez com que eu não me preocupasse em trabalhar e conquistar meu próprio dinheiro. Eu nunca fui consumista, e, de fato, mesmo vivendo com essa tranquilidade, foi n começo da faculdade que eu comecei o hábito de economizar o almoço para guardar dinheiro para outras coisas. Eu poderia simplesmente pedir para o meu pai, mas eu sentia que não era correto. Mesmo ainda vivendo sob o mesmo teto, quando comecei a ganhar meu próprio dinheiro eu nunca mais pedi nem aceitei dinheiro dele. Minhas viagens, meu lazer, minha comida, meu transporte, meu plano de saúde, e a conta de uma das linhas de telefone de casa (a que a gente usava para internet), eu que pagava. Quando eu tinha mais do que precisava, ia para uma poupança, porque sempre tem uma emergência de última hora que exige um capital disponível (e teve!). Quando eu não tinha, eu não fazia nada disso (e, eventualmente, me desfiz do plano de saúde e do telefone, e a tal poupança veio muito bem a calhar durante a penosa fase em que todos estavam desempregados). Minhas responsabilidade com dinheiro veio espontaneamente e aos poucos, mas a minha real noção de administração de dinheiro de casa veio de uma vez quando me mudei com minha então namorada, resolvendo esse processo em apenas duas semanas, e absolutamente tudo que eu fazia para mim, para nós, e para a casa precisava caber dentro do que eu ganhava na época. Com o meu histórico de poupador (novamente a minha poupança reconstruída nos dois anos anteriores foi extremamente providencial, porque os custos todos para alugar e equipar a casa e arcar com outros custos drenaram-na completamente no primeiro momento) isso acabou não sendo um problema, e, novamente, quando o dinheiro encurtava, eu cortava onde podia.

Administrando uma renda compatível com a classe média *média* eu consigo prover a mim e minha esposa de algum conforto, mesmo que, de vez em quando, eu precise cortar alguma coisa para chegar ao final do mês com dinheiro (desde o começo do ano até receber um aumento no mês passado, eu passava metade do mês evitando de almoçar para não gastar com comida, como eu fizera no passado, porque eu sabia que era um corte no orçamento que eu, pessoalmente, podia tolerar). É tudo apertado, para que não falte nada, o que me tira a possibilidade de gastar com extravagâncias e coisas sem utilidade prática. Some-se a isso ainda que ninguém na minha casa tem tatuagens ou já considerou fazê-las, de modo que isso também entrou no meu padrão mental.

Então, quando eu vejo um cabra com um braço inteiro tatuado, imediatamente me vem na cabeça: ele vive da grana do pai (especialmente quando ele é jovem demais para construir alguma coisa sozinho), porque ninguém que viva do próprio trabalho e tenha R$ 1500,00 pra encher um braço de desenhos bota comida na mesa. Não é sempre que isso acontece, mas eu preciso me esforçar para bloquear esse pensamento

Eu sei que é horrível isso. E eu encontrei o motivo de pensar assim.

EU ESTOU ME USANDO COMO MEDIDA.

Porque eu nunca tive como dispor de R$ 1500,00 na vida para qualquer coisa que não fosse comer e morar, eu penso automaticamente, atendendo aos meus padrões mentais, que se alguém dispõe desta quantia para algo meramente estético é porque não passa necessidade, ou não é responsável pelo sustento de ninguém. Eu penso nessa quantia em termos de "compras do mês", "passagens de ônibus", "latas de massa branca", nunca em algo que não seja vital para mim ou para a minha família. E se eu não paro, começo a associar a tatuagem com vaidade, surge uma sensação de desprezo e auto-exaltação, e começo a construir uma imagem da pessoa absolutamente minha.

O tempo inteiro eu procuro combater meus preconceitos praticando o desapego a mim mesmo, uma desconstrução do que eu tenho como certo e errado. Tirando os meus próprios padrões do caminho, construídos sob uma ótica absurdamente limitada das minhas próprias experiências, eu me torno mais capaz de exercitar a empatia, e a compaixão, de "calçar os sapatos do outro", de compreender que é perfeitamente possível que eu esteja completamente errado (meu exercício começa com a pergunta "e se eu estiver errado?"), e não cair na armadilha do julgamento. Embora o caminho até a compaixão universal seja longo e eu ainda não consiga ver o seu final, essa prática alivia a minha mente quando isso evita que eu fique matutando sobre a vida dos outros sem conhecimento.

Entender de onde vem o preconceito não pode servir como justificativa para você continuar praticando-o, como se isso fizesse parte de você. Seu pâncreas faz parte de você. Você é o que você constrói. E parte dessa construção é a desconstrução do que não é bom. Não significa tampouco que você deva aderir ao que quer que seja (por exemplo, que eu deva ir a um tatuador agora mesmo). Apenas que você reconhece que as pessoas podem ter muitos bons motivos, circunstâncias e contextos para fazer o que você normalmente não faria, e que você, por outro lado, também tem suas atitudes reprováveis que, para você, fazem todo sentido. O resto é cinismo.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Férias

Ser um bolsista acadêmico, independente do valor da bolsa, é estar no estrato mais baixo do mercado de trabalho: o único direito que você tem é o que o coordenador do projeto, responsável pela sua bolsa, considera que você tem, o que pode até ser nenhum. Minha chefe, em reconhecimento aos resultados, concedeu uma semana de folga (isso que eu chamei de férias) a todos os bolsistas do projeto. Isto foi na semana passada.

Eu tinha o sonho, desde o ano passado (quando eu "fugi" por três dias com a minha esposa, nas férias dela) de ir a Buenos Aires. Mas como eu não tinha dinheiro para viajar, decidi que passaria as férias no Rio, aproveitando a cidade como um turista. Como um turista sem dinheiro. Então roteirizei (mas nem sempre segui meu roteiro) de acordo com as ofertas disponíveis em cada dia, de modo que me apoderei da cidade. Tirando o primeiro sábado, em que fiz questão de ficar em casa de pernas para o ar, o primeiro domingo, em que tive meu dia de beleza, e a quarta, em que tive que preparar comida para a semana, todo dia fui a algum lugar ou evento legal e barato (ou de graça). Só gastei dinheiro com comida:

Segunda-feira: de posse do meu Passaporte Carioca (uma caderneta distribuída gratuitamente que permite a entrada franca em uma série de museus pela cidade, com listas de museus abertos especificamente em cada dia da semana), fui ao Centro determinado a ir a alguma exposição disponível naquele dia. Por falta de informação sobre o que estava em exposição, além da óbvia mostra de Picasso no CCBB (cuja fila torna a visita casual meio proibitiva), resolvi aproveitar que naquela semana rolava o Anima Mundi para tentar ver algum filme. Infelizmente cheguei 20 minutos depois do início de uma sessão no Cine Odeon, então peguei o livreto do festival e vi que tinha uma sessão dali a pouco no Maison de France, no Consulado Francês, de graça. Assisti O Planeta Selvagem, animação franco-tcheca muito louca com seios alienígenas de fora e genocídio.

Depois do filme rodeei o Paço Imperial, onde pedaços de lona com trechos de poesias estão espalhados pelo chão e pela fachada do prédio. De lá fui experimentar o hamburguer do Beco do Hamburguer. Jesus seria muito mais popular se ao invés de pão puro ele tivesse multiplicado esse hamburguer. Depois de lubrificar as artérias, muito satisfeito, pensei em ir para casa. Mas no caminho estava o Paço de novo, e a sua maravilhosa livraria, com títulos exclusivos e um sebo respeitável que me obrigaram a gastar mais dinheiro.

Eu teria ficado por ali e pegado um ônibus para casa, mas decidi ir até o ponto final dele, na Av. Churchill, e decidi ir pelo caminho menos óbvio. Desci em direção à estação das barcas, onde não ia desde antes de demolirem o Elevado da Perimetral. Caminhei pela calçada na beira do mar ao longo do antigo mercado da Praça XV e contornei o Museu Histórico Nacional (que eu prometi a mim mesmo ir visitar ainda este ano).

Terça-feira: Com o Passaporte Carioca, pretendia ver dois museus disponíveis naquele dia: o do Forte de Copacabana (cuja entrada, sem o passaporte, é R 6,00) e o da Fortaleza de São João, na Urca. Desta vez acompanhado da minha esposa, pelo horário, resolvemos ficar em Copacabana. O museu está expondo sobre a Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, e tem uma exposição fixa bem cuidada sobre a história militar no Brasil. Antes do sol se pôr nós tomamos um farto chá da tarde na Confeitaria Colombo lá dentro, olhando para a enseada de Copacabana.

De lá, partimos de bicicleta para o Leblon. Antes de tomar um ônibus, caminhamos um pouco, fomos ao Shopping Leblon e fizemos a farra na loja da Lindt.

Quarta-feira: Cozinha :P

Quinta-feira: Por conta do seu trabalho como voluntária no Comitê Rio 2016, minha esposa ganhou dois ingressos para o jogo Brasil x Estados Unidos pela Liga Mundial de Vôlei (cujo preço eu nem imagino). A fase final da Liga no Maracanãzinho também era o evento-teste para a competição de vôlei na Olimpíada do ano que vem, então era a oportunidade para ver como vão ser as coisas quando chegar a hora (não tenho nenhuma crítica específica, por sinal). Fomos ao Maracanãzinho na faixa. Brasil ganhou, ganhamos camisetas e desodorantes Nivea, mas o time acabou desqualificado pela combinação de resultados da sua chave :P

Sexta-feira: Dia de voltar às raízes e visitar meus pais e ficar com meu sobrinho na Ilha de Guaratiba. Não sem antes uma passada pelo folclórico Calçadão de Campo Grande.

Sábado: Levei meu sobrinho a uma festinha de aniversário com minha esposa e ele se divertiu horrores.

Domingo: Levei minha esposa, meus pais e meu sobrinho a um concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira na Cidade das Artes, na Barra, do programa Concertos Para a Juventude. Foi o evento mais caro dessas férias: R$ 1,00 a entrada (e na apresentação do canhoto em qualquer concerto da OSB até dezembro ganho 50% de desconto no ingresso).

Minha primeira vez na Cidade das Artes, e minha primeira vez com a OSB. Meu sobrinho tem 2 anos e meio e ficou vidrado na orquestra, e perto do final ele começou a imitar o maestro a reger. Na saída, no colo do meu pai, enquanto dizia como "fazia música" imitando o regente, ele viu os músicos saindo do prédio com seus instrumentos, e ele dizia: "tchau, músicos".

sábado, 4 de julho de 2015

Um cientista!

O prédio do herbário do Jardim Botânico tem uma porta envidraçada trancada por senha. Quando eu dobrei o corredor e fui pra porta, dei de cara com mais de 20 crianças de uns 4 anos uniformizadas. Enquanto eu pensava se voltava e saía pela portaria, uma delas apontou pra mim, encantada:
- Um cientista!
Decidi encarar. "Um cientista!" "Você é um cientista?". O professor resolveu tudo comigo ali em três palavras e dois olhares.
-Eu sou um cientista. Eu estudo plantas.
-Que planta você estuda?
-Eu estudo a planta que faz chá.
O professor interveio contando que D. João comia muito, e aí quando ficava de barriga cheia ele tomava chá, e eu completei dizendo que por isso ele plantou os pés de chá no Jardim. O professor disse para as crianças se despedirem, e cada uma disse:
-Tchau cientista!
Acho que eu vou virar tema de trabalho de casa de alguém essa semana.

Cada um fazendo a sua parte

Qualquer pessoa mental e espiritualmente sã entende que deve-se lutar por igualdade. Muda-se a prática: alguns tem mais atrevimento do que outros, e mesmo os que se mantém passivos, tenho certeza que esperam e torcem para que outros estejam lutando em seu lugar.
Das muitas lutas que se trava todo dia e que eu conheço de perto , vou destacar três frentes que eu acompanho diariamente: feminismo, ativismo LGBT, movimento negro.
Minha empatia me faz abraçar essas causas, mas, naturalmente cauteloso, eu escuto primeiro. Assim, percebi que pode ser um equívoco tomar a linha de frente, definir pautas e estratégias, advogar as causas, porque eu obviamente não sou mulher, nem LGBT (na época em que se definia por GLS, eu ainda era o S) e nem negro. Não experimento suas dificuldades e não experimento diretamente suas conquistas. Por mais simpático que eu possa ser, eu ainda sou um homem branco cis hétero que se aproveita passivamente de uma sociedade estruturalmente machista, e tudo que eles não querem é serem representados por mim.
Uma pessoa mais estúpida os consideraria, portanto, inimigos. Há ativistas do outro lado que também enxergam dessa forma. Eu, contudo, compreendo a posição e a respeito. Mas isso não significa que eu ou ninguém que sofra esse não pertencimento deva permanecer de braços cruzados. Porque eu não posso lutar as lutas das mulheres, de LGBT e nem dos negros, mas se o machismo está em mim, se o preconceito sexual está em mim, se o racismo está em mim, não é menos do que a minha obrigação lutar para destruí-los todos os dias. E de cada um de vocês. Assim lutamos por uma sociedade justa, cada um onde lhe compete, para a cooperação de todos.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Novo blog

Há três semanas lancei um novo blog, onde dou vazão a dois hábitos meus, o de querer saber o que aconteceu num dia no passado, e de escrever sobre isso. É o Efemérides.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O Sinistro

Todas as atividades que me dão prazer, as tenho realizado por motivos práticos: por inércia (trabalho, sociais), para preencher lacunas de tempo (ler, escrever, desenhar, games, música), ou por obrigação (comer, pedalar). Nenhuma delas pelo prazer que proporcionam. Isso tem me esgotado sobremaneira. Isso tem convergido e se manifestado em estafa, indiferença, e sonhos perturbadores, como esse abaixo. É preciso desacelerar:

"São 4 da manhã e eu estou escrevendo na esperança de tirar um sonho da cabeça e voltar a dormir.
Tudo começou quando ouvi falar que existia um filme sobre dois dançarinos que conquistavam pessoas e despertavam paixões enquanto competiam entre si. Era um dançarino espanhol e outro egípcio. Eram dois estereótipos cômicos dos anos 50 de amantes exóticos que faziam as mulheres suspirar com o poder dos seus bigodes e do seu sapateado. Ambos se chamavam algo como "Pés-dançantes-e-quadris-pulsantes" nas suas respectivas línguas (a língua do egípcio era francês), e um contra o outro era o nome do filme. Era esse o nível de absurdo.

Até aí foi divertido.

Acontece que esse filme evocava um ser maligno, que não tinha nome, mas vou chamar de Sinistro. Ele apareceu da seguinte maneira:

De alguma forma eu me vi participando do filme como figurante ou expectador ao vivo. Entre uma cena e outra, eu me vi com dois espanhóis encostados num carro, na praia do Leblon, conversando sobre diferentes formas de se pronunciar as mesmas palavras em diferentes lugares em espanhol e português. Vale dizer que era noite, e que o sonho inteiro se passava à noite. Foi quando passaram por nós dois garotos correndo. Eram dois meninos negros sem camisa, de no máximo 5 anos. Correram em direção ao rochedo no começo da praia, onde fica a colônia de pescadores. Eles estavam machucados e assustados, e eu vi que precisavam de ajuda. Fui até eles e detive um pelo ombro. O outro fugiu, e ele se debatia mesmo quando eu ofereci ajuda.

Então surgiu um homem com uma capa de chuva preta, capuz cobrindo a cabeça. Numa fala calma, mas bastante afetada, ele dizia que agora estava tudo bem, me agradecia, e falava amigavelmente com o menino. Eu o soltei. O homem o pegou pelo braço, o ergueu do chão, e começou a devorar uma perna. O menino urrava de pavor.

Fiquei desorientado por uns momentos. Quando me dei por mim, estava estabelecido que esse Sinistro seria um assassino em série que tinha preferência por mulheres e crianças, que ele devorava ainda vivos.

Eu estava entre fugir e acabar com ele, quando o encontrei novamente, comendo a carne de outra criança. E eu pude ver a sua aparência: Era um homem muito alto, mas muito curvado que o fazia mais baixo que eu. Parecia nu sob a capa. Sua pele era branca, mas ela desaparecia nas articulações dos membros, expondo restos de carne arruinada; o rosto parecia ser composto por retalhos, com lábios, nariz, bochechas, testa como se tivessem sido colados separadamente um sobre o outro, e não tinha cabelo. Não lembro de olhos. Numa atitude macabramente cortês, como antes, ele me explicou porque fazia aquilo. Deus havia criado o homem imperfeito e fomentado o pecado plantando uma árvore proibida no Éden, resultando inevitavelmente em sua queda. Sendo a queda programada e o pecado um aspecto do divino, ele entendia que cometer os pecados mais abomináveis - o assassinato de inocentes e canibalismo - eram uma forma de adoração mais elevada. Ele sinceramente acreditava estar praticando o bem maior.

Ele então mudou subitamente de atitude e partiu furiosamente para cima de mim, querendo me matar ou me comer vivo. Eu tentava escapar, mas o tempo todo ele quase me agarrava. Consegui pegar um machado e golpeava a esmo tentando afastá-lo. Consegui golpeá-lo na cabeça, mas ao ver que isso não o matava, golpeei várias vezes, destruindo seu crânio. Mas nem isso o detinha.

Nessa hora acordei, e ainda tomei um baita susto ao olhar as roupas pretas penduradas num gancho na parede do meu quarto. Respirei por alguns momentos, rolei na cama com o sonho fresco na memória e voltei a dormir. E voltei a sonhar.

Neste outro sonho, que também se passava à noite, eu estava na rua (a mesma rua onde encontrei o Sinistro pela última vez), entre os meus colegas de trabalho, e eu contava a eles o que tinha acabado de sonhar. Foi aí que eu concluí que o filme dos dançarinos continha uma maldição, e que além disso, outros objetos em cena, como umas varas de bambu que compunham uma das cenas do filme (e que estavam ominosamente ali presentes naquela outra "realidade") também continham uma energia negativa. Procurei jogar tudo fora.

Uma das minhas colegas, que é espírita, começou a falar de algo que ela chamou de "seres transversos", que eram espíritos que habitavam as casas e circulavam livremente nelas, nos atravessando o tempo todo sem percebermos, por serem imateriais, mas que nos influenciavam positiva ou negativamente.

Eu me vi num prédio, e eu podia ver o interior do prédio como se olhasse um recorte vertical esquemático dele, ao mesmo tempo em que eu me via dentro dele, cercado por paredes. E eu podia ver "seres transversos" fluindo suavemente por toda a construção, subindo e descendo em diagonais, indo de um lado para outro. Eles eram de luz. Mas entre eles havia um único vulto furtivo que vez ou outra surgia de relance. Então, de repente, num susto, ele apareceu claramente na minha frente. Sua forma era uma espécie de anel grosso e negro, com um rosto angulosamente estilizado no estilo maia entalhado. Eu entendi que ele era a razão de eu ter tido aquele sonho anteriormente. Então eu enxergava tudo escuro em volta dele, e conforme a minha angústia aumentasse, eu via chamas. E de repente os seres de luz sumiram, e o meu prédio era uma coluna espiral de fogo em fúria. Era o próprio inferno, e o tal anel flutuava e girava no meio de tudo, e eu tentava sair desesperadamente. Gritava, pedia por socorro, mas eu estava só.

Então, por um momento, no meio desse caos, eu não enxerguei paredes. Eu podia ver a rua. Me arrastei para fora dali, e a visão desapareceu. Meus colegas ainda estavam ali, me olhando com estranheza, porque só eu tinha visto aquilo. O prédio nunca havia existido. E eu entendi que o prédio, e todos aqueles seres que o habitavam... eram eu."

sexta-feira, 10 de abril de 2015

A lenda do Preste João

O tempo inteiro o ser humano é desafiado a tomar decisões. A grande bifurcação na vida de toda pessoa é o momento em que ela deve decidir entre perseguir um sonho ou usar o que tem nas mãos para fazer o melhor que pode. A utopia e o pragmatismo. 

No segundo caso, é possível prosperar com alguma sorte (a sorte de você ter em mãos ou ao alcance delas recursos para alavancar os seus planos, por exemplo), elevando a sua posição ao máximo que o pavimento onde ela se alicerça pode lhe dar. Mas não vai sair muito disso.
No primeiro, a única certeza é o caminho. A utopia, por definição, é o ideal inatingível. Esperar pela utopia é, portanto, ter certeza de uma decepção. Mas a busca pela utopia nos leva a caminhos impensáveis, que, assim desbravados, abrem novas possibilidades para todos.

A linha do tempo da humanidade foi desenhada por essas escolhas.

Feito esse preâmbulo, deixe-me apresentar a lenda do Preste João:

Em meados do século XII, começaram a circular pela Europa informações de uma carta endereçada ao imperador bizantino Manuel Comnenus assinada por um certo Preste João. A carta era uma espécie de pedido de socorro e ao mesmo tempo uma oferta de ajuda. Preste João se dizia descendente de um dos Reis Magos, e ele mesmo era rei de um país cristão localizado na Ásia, e estava lutando em desvantagem contra exércitos de infiéis (muçulmanos e pagãos) dos reinos que o cercavam. A carta também descrevia o reino de Preste João repleto de riquezas, como pérolas, pedras preciosas, uma fonte da juventude, e criaturas fantásticas como aves gigantes e homens chifrudos com três olhos atrás da cabeça.

A carta obviamente era uma farsa. Mas para a Europa do século XII, em que previsões do Fim dos Tempos iam e vinham como a chuva, e cujo conhecimento do mundo além da Pérsia e do norte da África era baseado em rumores e lendas, coisas como homens-porcos eram perfeitamente possíveis, ou informações que um governante educado poderia ignorar como recurso estilístico para ressaltar a exoticidade de alguém que prometia ser dono de riquezas inimagináveis, ou um exército contra um inimigo comum e imediato e que poderia destruir tudo a qualquer momento. E era isso que importava. O autor da carta dava credibilidade ao seu relato citando a Igreja Nestoriana, a denominação cristã dominante da Ásia e que a Europa mantinha contato através da Pérsia, e lá residia o Patriarca da Igreja de São Tomé, que sabidamente existia na Índia desde o século I - fosse Preste João católico e estivesse jurando obediência ao Papa, por exemplo, a farsa seria mais evidente. A carta estar endereçada ao imperador bizantino, de cuja Igreja havia se originado o nestorianismo séculos antes, também foi sagaz.

Eventualmente a carta chegou ao Papa Alexandre III, que, em 1177 enviou uma comitiva para o oriente para encontrar Preste João e entregar-lhe uma resposta. Ele esperava sinceramente que Preste João se tornasse um aliado na luta perpétua de cristãos e muçulmanos no Oriente Próximo. Os mensageiros nunca retornaram. Apesar disso, aventureiros europeus continuaram forçando o caminho para o leste em busca do reino de Preste João e suas riquezas, tateando por rumores e suposições, geralmente esbarrando em muçulmanos ou assaltantes, ou apenas voltando de mãos vazias.

Cerca de 40 anos depois da comissão de Alexandre III, o Bispo de Acre trouxe boas notícias da Quinta Cruzada, rumores de um poderoso rei que marchava no leste contra os infiéis na Pérsia. Uma onda de otimismo invadiu a Europa, e muitos acreditavam que Preste João, ou provavelmente um de seus descendentes chamado Davi, estava vindo para ajudá-los.

Infelizmente, não era o Preste João. Era ninguém menos que Genghis motherfucking Khan.

Genghis havia conquistado a Pérsia e destruído Bagdá, pelo que os cristãos europeus ficaram eufóricos. Eles, que estavam bem preparados para ataques árabes na Palestina e na Anatólia, mas não para as hordas mongóis vindas da Rússia, só perceberam realmente o que estava acontecendo quando, de assalto, os mongóis, sob o filho de Genghis, Ogedei, devastaram a Polônia e a Hungria, e só pararam por aí porque o mesmo Ogedei morrera e seus generais tiveram que voltar à capital Karakorum para eleger o novo Khan.

Apesar disso, a lenda de Preste João persistiu por muito tempo, apoiada em relatos de exploradores confiáveis. Marco Polo descrevia Genghis Khan como um vassalo de Preste João que teve a audácia de pedir uma filha sua em casamento, e a recusa ocasionou uma guerra na qual João perecera (Temudjin realmente tomou uma cristã nestoriana como esposa para um dos seus filhos, fato que levou a uma guerra contra o pai da moça, o khan karaíta e nestoriano Toghrul). A maioria dos relatos pós-mongóis posicionavam Preste João como um dos reis derrotados por Genghis Khan, mas sugeriam que seu reino ainda existisse em algum lugar na China ou na Índia, ou mesmo na África, onde os reis etíopes preservavam o cristianismo apesar de um relativo isolamento com as nações européias devido à expansão islâmica (o missionário Jordanus, em 1329, diz que o rei da Etiópia do seu tempo era o tal Preste João, e em 1441 os embaixdores do imperador Zara Yacob no Concílio de Florença ficaram confusos quando os clérigos europeus insistiam em se referir ao seu senhor como Preste João. É provável que os imperadores etíopes sequer tenham ouvido falar do Preste João até meados do século XVIII).

Viajantes europeus, e mesmo governos nacionais (mais de uma expedição marítima portuguesa para o leste teve a incumbência de localizar o Preste João) procuraram o reino por 500 anos. Por mais legendário que fosse, foi uma das forças motivadoras para os europeus para a exploração do mundo fora da Europa, e abriu caminho para o intercâmbio cultural, científico e tecnológico entre regiões anteriormente tão isoladas por barreiras culturais e políticas.

P.S.: Não faço a menor ideia de como a configuração do texto deste post ficou assim.

sexta-feira, 20 de março de 2015

De bike por aí - experiências, críticas, etc. com o Bike Rio e as ciclovias da cidades

Sou um homem obeso de 36 anos que passou 3/4 da vida sustentando uma massa corporal de três dígitos. Alguém imaginaria meu sofrimento em subir escadas ou caminhadas longas. Não é o caso, sempre trabalhei minha resistência ao esforço prolongado (mais do que em exercícios anaeróbicos), caminhando sem limite para parar. Isso nunca diminuiu meu peso, mas pelo menos me ajudou a estabilizá-lo na faixa de 105-110 kg nos últimos 20 anos sem que eu mexesse na minha dieta de gordo. E me tornou muito resistente.

Bike Rio e a estrutura que a cidade oferece

No começo deste ano resolvi andar de bicicleta, em parte por ter um cartão de crédito, em parte por ter perdido a linha no fim do ano. Me cadastrei no sistema Bike Rio e comecei a mandar brasa. O sistema impõe um limite de no máximo 60 minutos a cada viagem, de maneira que as minhas metas de tempos e distâncias, e de ir daqui pra lá, precisam estar dentro desse limite.

O sistema inclui uma rede contínua de estações na Zona Sul, no Centro e na Grande Tijuca. Ainda possui uma outra rede separada desta, entre Barra da Tijuca e Recreio, e, isoladas, uma estação na Rocinha e 4 no Parque de Madureira. As rotas precisam levar a disponibilidade de estações no caminho em consideração.

Onde eu moro não é coberto pelo sistema. São mais de 3,5 km de distância até a estação mais próxima. Mas como trabalho na Zona Sul, tem sempre uma estação por perto. Por isso, eu circulo principalmente entre Jardim Botânico, Lagoa, Leblon, Ipanema, e no eixo de Botafogo entre o Jardim e a Praia de Botafogo. Outra região que eu costumo pedalar é na Grande Tijuca, entre Tijuca, Praça da Bandeira, Maracanã e Vila Isabel. Uma ou outra vez eu fui da Zona Sul ao Centro, mas já é uma viagem longa que exige um intervalo 15 minutos para a troca de bicicletas no meio do caminho. E tem sempre o risco de você não encontrar uma bicicleta livre e ficar por ali mesmo.

A Zona Sul é fácil. As ciclovias são abundantes, e quando não são, as calçadas são geralmente largas e relativamente bem conservadas. No Centro as ciclovias começam a desaparecer. O corredor mais seguro para ir do Centro para a Grande Tijuca é atravessando a Lapa, a Cruz Vermelha, o Catumbi e o Estácio, mas não existe ciclovia, e mal existe calçada nessa rota, de maneira que o ciclista precisa seguir o fluxo do trânsito grande parte do tempo. Durante a semana, no horário de início de noite, além do tráfego pesado de carros e ônibus, é muito perigoso nessa região, e quem anda de Bike Rio tem pelo menos um celular a ser roubado. Isso me impede de ir do trabalho até o mais próximo possível de casa de bicicleta. A Grande Tijuca também carece de ciclovias, mas o trânsito é mais contornável e mais seguro.

Por conta do trânsito, eu acabei percebendo que é possível cortar caminho de bicicleta e encurtar o tempo que seria gasto com ônibus para ir de ponto A a ponto B. Encurtar significativamente. Num trecho aqui na Zona Sul, no fim de tarde, o ônibus demora cerca de 50 minutos para chegar no túnel Rebouças. De bicicleta, eu chego na cara do Rebouças em 15. Então eu passei a usar essas bicicleta não tanto para lazer e exercício, mas para poupar tempo.

As dificuldades

Circular pela cidade tem seus contratempos. São muitos carros, sinais de trânsito, outras bicicletas, e pessoas que é preciso respeitar. É preciso estar atento o tempo inteiro. Inclusive com a bicicleta. Como a bicicleta não é "sua", cada uma que você pega tem um comportamento diferente em que você precisa se adaptar, frequentemente com algum defeito. Essas bicicletas são muito pesadas e muito duras, embora a constituição delas não seja robusta como uma Barraforte. São vários os problemas mais frequentes, e a maioria deles não é óbvia na hora de pegar uma bike. Eles são:

-Pneu baixo, careca, ou terminantemente arrebentados com as câmaras vazias puxadas para fora;
-Freio fraco ou estourado;
-Câmbio. Acho que é a parte mais problemática. Muito comum a segunda marcha não encaixar, e a terceira deixar a correia pulando, fazendo o pedal girar em falso. Nos casos mais críticos, a correia escapa nessa situação;
-Espelhos arrancados - não que eles sejam muito úteis de qualquer maneira;
-Bancos que não sustentam o seu peso e abaixam de repente, ou não ficam devidamente travados de giram enquanto você pedala;
-O guidão é feito de um alumínio muito fino que se quebra com frequência assustadora (duas vezes comigo, outras tantas pelo que eu já vi em bikes estacionadas por aí);

Isso tudo, aliado com espaços inadequados em boa parte da área coberta pelo Bike Rio atrasa bastante as coisas. Seria interessante se a prefeitura, que é parceira do Itaú neste projeto, também abrisse espaço para outros serviços similares. A concorrência seria salutar. E é imperativo expandir o sistema de ciclovias, mas não como fizeram na região de Campo Grande - pintando calçadas já existentes de vermelho, deixando postes, árvores e tudo mais no meio do caminho. O uso de faixas estreitas no canto das ruas no Centro e na Tijuca tiveram pouco impacto no trânsito no local, e são alternativas mais viáveis para regiões completamente ocupadas e populosas, como o Grande Méier ou a parte da Zona Norte "do lado de lá" da linha do trem, que é praticamente impossível de se conectarem por bicicleta com o resto da cidade por falta de espaços para isso.

O Bike Rio, em tese, tem caminhonetes circulando pela cidade com técnicos, e reboques para levar bicicletas defeituosas, ou transportar bicicletas de uma estação cheia para outras mais vazias. Mas esse serviço não é imediato, e é possível que certas estações fiquem vazias por vários dias, ou com bicicletas quebradas presas a elas.

De grão em grão a gente perde um quilograma

De qualquer maneira, eu fiz uma contabilidade do meu desempenho, desde o dia 12 de janeiro último, quando comecei, até hoje, a tarde do dia 20 de março. Desconsiderei nessas contas trajetos muito curtos (com menos de 2 km, facilmente transponíveis a pé), o que mascararia os resultados finais com dados pontualmente insignificantes (aumentaria muito a quantidade de dias pedalados, de percursos e velocidade média, diminuiria muito a distância média por percurso, sem que isso demonstre algum ganho de tempo e saúde pela atividade).

Do dia 12/01 até agora, a tarde do dia 20/03, foram efetivamente 34 dias pedalando em 47 percursos (ou trechos, por exemplo, ao pedalar um trecho, depois pegar um ônibus, e mais tarde pedalar outro trecho. Ou pedalar de manhã, e depois à tarde no mesmo dia).

Neste período eu percorri 312,2 km, a uma velocidade média de 10,97 km/h. Os percursos tiveram distância média de 6,47 km, e o mais longo deles, 12,7 km (vencidos em 65 minutos). Atingi o meu 300º quilômetro ontem, na Praça da Bandeira.

A maior velocidade média alcançada foram dois picos de 15,6 km/h em trajetos de 3,7 km, em ciclovia plana. O segundo trajeto mais longo de todos, de 12 km, perfiz a 14,4 km/h, também em ciclovia plana.

Não houve melhora significativa na velocidade média dos percursos ao longo do tempo (eu fiz um gráfico pra ver). O que houve foi uma melhora significativa na minha condição física ao final dos exercícios. Meus sistemas cardiorrespiratório e o vascular estão funcionando macios, macios, e as pernas não tremem mais.

Mas não graças aos guidões de latinha de refrigerante :P

segunda-feira, 9 de março de 2015

Bike Rio - alerta aos usuários


O ano começou muito diferente para mim. Pela primeira vez na vida eu tenho cartão de crédito e faço transações eletrônicas (eu era um usuário de papel moeda convicto, e ainda não confio totalmente em dinheiro invisível). Isso me permitiu usufruir do serviço Bike Rio, sistema integrado de aluguel de bicicletas disponibilizado em parceria do banco Itaú com a prefeitura do Rio que cobre, de maneira meio desconexa, Zona Sul, Centro e Grande Tijuca (a rede funciona de maneira mais coesa nessa região, embora as ciclovias não cheguem na maior parte da Grande Tijuca), Rocinha (uma única estação cuja utilidade prática eu ainda hei de encontrar), Barra, Recreio, e Madureira (4 estações isoladas dentro do Parque de Madureira). Uso o serviço quase diariamente, e desde 12 de janeiro já percorri quase 250 km pela cidade. Em outra ocasião eu escreverei amenidades sobre isso.

O motivo de eu estar escrevendo sobre isso hoje é que eu sofri um acidente e acho que vale a pena deixar aqui como alerta aos demais usuários sobre a segurança do equipamento.

De manhã eu cheguei de ônibus em Vila Isabel, e peguei uma bike na estação 192 da Praça Barão de Drumond. Pretendia ir com ela até a Praça da Bandeira, evitando assim um trânsito e um caminho desnecessariamente convoluto do ônibus que eu pegaria para chegar ao trabalho, e com isso economizaria cerca de 15 minutos de viagem. Quando cheguei ao cruzamento da Av. Manuel de Abreu com a Rua Felipe Camarão, uma espécie de pontezinha que passa sobre o canal que segue pelo meio da avenida, eu me desloquei para fora da avenida e fiquei esperando o sinal da Felipe Camarão fechar para atravessar. Quando fechou, eu me apoiei sobre o guidão para acelerar. De repente, todo o meu peso foi para frente e para baixo, e eu rolei pelo chão no meio da rua.

O guidão havia se partido completa- mente. Estou colocando uma foto aí ao lado para mostrar como ficou. O guidão é um tubo de alumínio oco e bem fino que se rompe sem avisar. Ele não amassa, não racha, simplesmente quebra sob stress, e stress neste caso significa inclinar seu corpo para frente sobre ele. Não foi a primeira vez que isso me aconteceu; outro dia, ao atravessar um sinal na Delfim Moreira, no Leblon, o guidão se rompeu, mas de uma forma em que eu ainda consegui "encaixar" as duas partes e, com o cuidado de uma mãe, levá-la até uma estação próxima.

Me levantei, bati umas fotos, e levei a bike até a estação mais próxima dali, a 199 (Praça Niterói). Quando cheguei lá, a ironia: alguém havia sofrido o mesmo tipo de acidente de deixado a bike naquela estação com o guidão partido. A foto aí mostra as duas juntas.

A minha sorte, em ambos os casos, hoje e quando aconteceu no Leblon, foi ter atravessado com o sinal fechado, e não estar seguindo o fluxo, senão seria atropelamento na certa. E mais, sorte do meu corpo não ter caído sobre o cano partido de alumínio, sobre o qual estava apoiado no momento da quebra, senão eu seria rasgado pelo metal. Apesar do perigo e da pastelança da queda, não tenho nenhum roxinho decente pra contar história. De qualquer forma, registrei o ocorrido ao Bike Rio por telefone, e estou divulgando em todas as minhas redes para ver que providências serão tomadas. Aos usuários, o alerta.
 
eXTReMe Tracker