terça-feira, 21 de julho de 2015

Férias

Ser um bolsista acadêmico, independente do valor da bolsa, é estar no estrato mais baixo do mercado de trabalho: o único direito que você tem é o que o coordenador do projeto, responsável pela sua bolsa, considera que você tem, o que pode até ser nenhum. Minha chefe, em reconhecimento aos resultados, concedeu uma semana de folga (isso que eu chamei de férias) a todos os bolsistas do projeto. Isto foi na semana passada.

Eu tinha o sonho, desde o ano passado (quando eu "fugi" por três dias com a minha esposa, nas férias dela) de ir a Buenos Aires. Mas como eu não tinha dinheiro para viajar, decidi que passaria as férias no Rio, aproveitando a cidade como um turista. Como um turista sem dinheiro. Então roteirizei (mas nem sempre segui meu roteiro) de acordo com as ofertas disponíveis em cada dia, de modo que me apoderei da cidade. Tirando o primeiro sábado, em que fiz questão de ficar em casa de pernas para o ar, o primeiro domingo, em que tive meu dia de beleza, e a quarta, em que tive que preparar comida para a semana, todo dia fui a algum lugar ou evento legal e barato (ou de graça). Só gastei dinheiro com comida:

Segunda-feira: de posse do meu Passaporte Carioca (uma caderneta distribuída gratuitamente que permite a entrada franca em uma série de museus pela cidade, com listas de museus abertos especificamente em cada dia da semana), fui ao Centro determinado a ir a alguma exposição disponível naquele dia. Por falta de informação sobre o que estava em exposição, além da óbvia mostra de Picasso no CCBB (cuja fila torna a visita casual meio proibitiva), resolvi aproveitar que naquela semana rolava o Anima Mundi para tentar ver algum filme. Infelizmente cheguei 20 minutos depois do início de uma sessão no Cine Odeon, então peguei o livreto do festival e vi que tinha uma sessão dali a pouco no Maison de France, no Consulado Francês, de graça. Assisti O Planeta Selvagem, animação franco-tcheca muito louca com seios alienígenas de fora e genocídio.

Depois do filme rodeei o Paço Imperial, onde pedaços de lona com trechos de poesias estão espalhados pelo chão e pela fachada do prédio. De lá fui experimentar o hamburguer do Beco do Hamburguer. Jesus seria muito mais popular se ao invés de pão puro ele tivesse multiplicado esse hamburguer. Depois de lubrificar as artérias, muito satisfeito, pensei em ir para casa. Mas no caminho estava o Paço de novo, e a sua maravilhosa livraria, com títulos exclusivos e um sebo respeitável que me obrigaram a gastar mais dinheiro.

Eu teria ficado por ali e pegado um ônibus para casa, mas decidi ir até o ponto final dele, na Av. Churchill, e decidi ir pelo caminho menos óbvio. Desci em direção à estação das barcas, onde não ia desde antes de demolirem o Elevado da Perimetral. Caminhei pela calçada na beira do mar ao longo do antigo mercado da Praça XV e contornei o Museu Histórico Nacional (que eu prometi a mim mesmo ir visitar ainda este ano).

Terça-feira: Com o Passaporte Carioca, pretendia ver dois museus disponíveis naquele dia: o do Forte de Copacabana (cuja entrada, sem o passaporte, é R 6,00) e o da Fortaleza de São João, na Urca. Desta vez acompanhado da minha esposa, pelo horário, resolvemos ficar em Copacabana. O museu está expondo sobre a Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, e tem uma exposição fixa bem cuidada sobre a história militar no Brasil. Antes do sol se pôr nós tomamos um farto chá da tarde na Confeitaria Colombo lá dentro, olhando para a enseada de Copacabana.

De lá, partimos de bicicleta para o Leblon. Antes de tomar um ônibus, caminhamos um pouco, fomos ao Shopping Leblon e fizemos a farra na loja da Lindt.

Quarta-feira: Cozinha :P

Quinta-feira: Por conta do seu trabalho como voluntária no Comitê Rio 2016, minha esposa ganhou dois ingressos para o jogo Brasil x Estados Unidos pela Liga Mundial de Vôlei (cujo preço eu nem imagino). A fase final da Liga no Maracanãzinho também era o evento-teste para a competição de vôlei na Olimpíada do ano que vem, então era a oportunidade para ver como vão ser as coisas quando chegar a hora (não tenho nenhuma crítica específica, por sinal). Fomos ao Maracanãzinho na faixa. Brasil ganhou, ganhamos camisetas e desodorantes Nivea, mas o time acabou desqualificado pela combinação de resultados da sua chave :P

Sexta-feira: Dia de voltar às raízes e visitar meus pais e ficar com meu sobrinho na Ilha de Guaratiba. Não sem antes uma passada pelo folclórico Calçadão de Campo Grande.

Sábado: Levei meu sobrinho a uma festinha de aniversário com minha esposa e ele se divertiu horrores.

Domingo: Levei minha esposa, meus pais e meu sobrinho a um concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira na Cidade das Artes, na Barra, do programa Concertos Para a Juventude. Foi o evento mais caro dessas férias: R$ 1,00 a entrada (e na apresentação do canhoto em qualquer concerto da OSB até dezembro ganho 50% de desconto no ingresso).

Minha primeira vez na Cidade das Artes, e minha primeira vez com a OSB. Meu sobrinho tem 2 anos e meio e ficou vidrado na orquestra, e perto do final ele começou a imitar o maestro a reger. Na saída, no colo do meu pai, enquanto dizia como "fazia música" imitando o regente, ele viu os músicos saindo do prédio com seus instrumentos, e ele dizia: "tchau, músicos".

sábado, 4 de julho de 2015

Um cientista!

O prédio do herbário do Jardim Botânico tem uma porta envidraçada trancada por senha. Quando eu dobrei o corredor e fui pra porta, dei de cara com mais de 20 crianças de uns 4 anos uniformizadas. Enquanto eu pensava se voltava e saía pela portaria, uma delas apontou pra mim, encantada:
- Um cientista!
Decidi encarar. "Um cientista!" "Você é um cientista?". O professor resolveu tudo comigo ali em três palavras e dois olhares.
-Eu sou um cientista. Eu estudo plantas.
-Que planta você estuda?
-Eu estudo a planta que faz chá.
O professor interveio contando que D. João comia muito, e aí quando ficava de barriga cheia ele tomava chá, e eu completei dizendo que por isso ele plantou os pés de chá no Jardim. O professor disse para as crianças se despedirem, e cada uma disse:
-Tchau cientista!
Acho que eu vou virar tema de trabalho de casa de alguém essa semana.

Cada um fazendo a sua parte

Qualquer pessoa mental e espiritualmente sã entende que deve-se lutar por igualdade. Muda-se a prática: alguns tem mais atrevimento do que outros, e mesmo os que se mantém passivos, tenho certeza que esperam e torcem para que outros estejam lutando em seu lugar.
Das muitas lutas que se trava todo dia e que eu conheço de perto , vou destacar três frentes que eu acompanho diariamente: feminismo, ativismo LGBT, movimento negro.
Minha empatia me faz abraçar essas causas, mas, naturalmente cauteloso, eu escuto primeiro. Assim, percebi que pode ser um equívoco tomar a linha de frente, definir pautas e estratégias, advogar as causas, porque eu obviamente não sou mulher, nem LGBT (na época em que se definia por GLS, eu ainda era o S) e nem negro. Não experimento suas dificuldades e não experimento diretamente suas conquistas. Por mais simpático que eu possa ser, eu ainda sou um homem branco cis hétero que se aproveita passivamente de uma sociedade estruturalmente machista, e tudo que eles não querem é serem representados por mim.
Uma pessoa mais estúpida os consideraria, portanto, inimigos. Há ativistas do outro lado que também enxergam dessa forma. Eu, contudo, compreendo a posição e a respeito. Mas isso não significa que eu ou ninguém que sofra esse não pertencimento deva permanecer de braços cruzados. Porque eu não posso lutar as lutas das mulheres, de LGBT e nem dos negros, mas se o machismo está em mim, se o preconceito sexual está em mim, se o racismo está em mim, não é menos do que a minha obrigação lutar para destruí-los todos os dias. E de cada um de vocês. Assim lutamos por uma sociedade justa, cada um onde lhe compete, para a cooperação de todos.
 
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